Além de autorizações da Anvisa e dos governos, há necessidade de seguir normas de limpeza e acondicionamento correto dos produtos
Por GIeise de Castro
Se uma penca de bananas for transportada sem embalagem adequada, em veículo fechado, e submetida a altas temperaturas ambientes, chegará ao destino escura e amassada, sem chance de poder ser comercializada. Mas uma caixa de comprimidos, se transportada nas mesmas condições, dificilmente acusará alteração visível ao consumidor. No entanto, é quase certo que o medicamento perderá a eficácia.
Para operarem um segmento tão sensível, que requer cuidados especiais, transportadoras, operadores logísticos e demais componentes da cadeia de medicamentos precisam de autorização específica, além de licenças sanitárias federal, estadual e, às vezes, municipal. As licenças e a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) valem por um ano e a revalidação é condicionada a inspeções periódicas. No caso de medicamentos controlados, o controle é ainda mais rigoroso, envolvendo até a Polícia Federal.
"As empresas precisam, no mínimo, seguir as resoluções da Anvisa", diz Geraldo Monteiro, diretor-executivo da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan). Segundo ele, mesmo produtos que não exijam transporte ou a armazenagem em ambiente refrigerado ou frigorificado, o ideal é que sejam mantidos em temperatura de até 25-?C Alguns medicamentos exigem acondicionamento entre 15-?Ce30-?C,enquanto outros, como os hemoderivados, precisam de ambientes congelados. Vacinas e insulinas demandam ambiente refrigerado, entre 2-?C e 8-?C As boas práticas, que incluem normas de limpeza e manutenção de infraestrutura adequada, valem tanto para depósitos quanto para os veículos que transportam os medicamentos, que precisam ser adaptados. No transporte de vacinas é comum o uso de mini contêineres ou uma espécie de freezer móvel, utilizado em veículos não preparados para receber o equipamento de refrigeração.
"O transporte inadequado, com falhas no controle de temperatura, significa risco de comprometimento de saúde", diz Marcelo Nicioli, gerente de refrigeração para a América Latina da Thermo King, fabricante de equipamentos de refrigeração para transporte de medicamentos, alimentos, produtos químicos em geral e eletrônicos. No caso de medicamentos, a escolha do equipamento depende da distância a ser percorrida. Segundo Nicioli, as operadoras c transportadoras costumam utilizar caminhões do tipo baú com refrigeração para maiores distâncias e caixas de isopor com gelo para curtas distâncias. "O uso de baú isolado, preferido por laboratórios mais exigentes, permite precisão e registro completo da temperatura ao longo da viagem."
Para Sonja Helena Madeira Macedo, gerente da área de fármacos da Ativa Logística, especializada em operação logística e transporte de medicamentos e cosméticos, os requisitos, além de regulatórios, são também exigência do mercado. "Temos de seguir essas boas práticas de qualidade e manter uma rotina padronizada para coletar, manusear, conferir e entregar."
Em seu centro de distribuição (CD) de Itapevi, na Grande São Paulo, com duas câmaras frias e temperaturas de 2-?C a 8-?C, a empresa opera com a guarda e armazenagem de produtos da chamada cadeia fria, ou termossensíveis, como vacinas, quimioterápicos e insulinas. Com 14 CDs, oito pontos de apoio de parceiros, frota de 500 veículos próprios e de terceiros, sua atuação abrange o gerenciamento de estoques e transporte de medicamentos na região Sudeste e no Paraná.
Para Thiago Amaral, vice-presidente da operadora RV ímola,"você precisa demonstrar que é realmente capaz de operar nesse mercado, que exige conhecimento e especialização. Leva não menos do que um ano para entrar nesse segmento e até três anos para operar com medicamentos controlados". Em contrapartida, é um mercado que não tem sazonalidade, não tem altos e baixos, como no segmento automobilístico.
"As pessoas ficam doentes o tempo todo e a demanda por medicamentos é crescente", diz o executivo da RV ímola, cujo faturamento tem crescido a uma média de 18% ao ano, nos últimos três anos. Com 12 CDs próprios, cinco operações in-house e frota própria de caminhões qualificados e certificados, a empresa atua com transporte, armazenagem e gestão de estoques de laboratórios como Aché,Teuto-Pfizer, Sanofi, Astra Zênica e Hipermarcas.
Com um CD em São Paulo, dotado de sete câmaras frigoríficas, utilizadas em operações logísticas de alimentos, a Localfrio se prepara para entrar no mercado de medicamentos. Segundo Eduardo Razuck, diretor comercial, a empresa está na fase final de aprovações pela Anvisa e pela Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa), da Prefeitura de São Paulo, e até novembro deverá começar a operar na área. Em uma segunda fase, pretende ingressar na atividade de transporte. A empresa, que trabalha com importação de medicamentos, decidiu entrar na gestão logística desses produtos para diversificar o portfólio de serviços.
Algumas empresas começam a explorar o lucrativo nicho hospitalar, como a Intero Brasil, que fechou em março contrato de RS 1 2 milhão por mês com o Hospital das Clínicas de São Paulo. A empresa tomou-se responsável pelo fluxo logístico de medicamentos e outros insumos do complexo de nove hospitais do HC, operação que vai do armazenamento dos produtos comprados pela instituição e entregues pelos fornecedores em um CD da empresa, em Guarulhos, na Grande São Paulo, até o abastecimento das unidades internas de consumo, como enfermarias, áreas de internação, centros cirúrgicos, emergências e UTI. O contrato inclui a logística do Programa Medicamento em Casa, do HC, que atende 110 mil pacientes de ambulatório, com o fornecimento de medicação de uso contínuo. Desse total, a empresa atende 60 mil pacientes por mês e em de 2015 pretende atingir 100% dos cadastrados.
Segundo Marcos Silva, presidente da Intero Brasil, que investiu R$8 milhões em instalações e tecnologia específica, o armazenamento externo dos insumos permitiu ao HC desocupar pelo menos três mil metros quadrados, que poderão ser utilizados para mais leitos e salas cirúrgicas. O espaço de 12 mil metros quadrados ocupado com os medicamentos do programa de uso contínuo vai ser utilizado para um laboratório clínico."Com a centralização da gestão dos estoques,o HC utiliza melhor os produtos", diz Silva. Segundo ele,os custos da operação com medicamentos são cerca de 30% maiores do que os envolvidos na logística de outros produtos.
A Logimed, do grupo Andrade Gutierrez, acrescentou à logística hospitalar a compra de medicamentos e outros materiais, verticalizando a operação. Sua atuação vai da compra, armazenagem e transporte dos produtos à administração de sua utilização dentro dos hospitais, com funcionários próprios. Criada em 2008, com investimentos de cerca de RS 50 milhões, incluindo um CD em São Paulo, a empresa atende a 40 unidades da Santa Casa de São Paulo, cinco unidades da Unimed Paulistana, Hospital Life Center, de Belo Horizonte, hospitais Emílio Carlos e Padre Albino, de Catanduva (SP), Unimed de Taubaté (SP) e Hospital Universitário de Marília (SP).
Segundo Alexandre Dib,presidente da empresa, a verticalização das operações permite ganhos de custo em toda a cadeia de suprimento. A gestão otimizada da logística reduz desperdícios e perdas de produtos. Com a centralização das compras, segundo a empresa, seus clientes chegam a economizar até 30%.
Fonte: Valor Econômico
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