terça-feira, 9 de setembro de 2014

Déficit comercial do Brasil com os EUA inverte tendência e cai 25% este ano

por RedacaoT1
Imagem: Valor

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O déficit comercial brasileiro com os Estados Unidos diminuiu 25% neste ano entre janeiro e agosto, saindo dos US$ 7,77 bilhões vistos neste período em 2013 para US$ 5,81 bilhões neste ano.

A recuperação da economia norte-americana e o aumento da exportação de petróleo e aeronaves devem frear a tendência de ampliação do saldo negativo no comércio bilateral registrada nos últimos oito anos, com exceção de 2012, de acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Além disso, com a crise na Argentina, os EUA abriram distância do país vizinho e consolidou sua posição como segundo maior destino das exportações brasileiras, com US$ 17, 7 bilhões em vendas contra US$ 9,8 bilhões da Argentina. No ano passado, essa diferença era de apenas US$ 3 bilhões.

Analistas veem como positiva a interrupção do aprofundamento do déficit comercial com os EUA, mas dizem que a consolidação dessa tendência vai depender do desempenho da economia brasileira no próximo ano e do quão sólida será a recuperação da atividade nos Estados Unidos.

Sempre na comparação da média diária do acumulado de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano passado, as exportações brasileiras aos Estados Unidos cresceram 11,9% enquanto as importações ficaram praticamente estáveis, com leve recuo, de 0,2%. Ano passado, sobre 2012, as importações haviam crescido 11%.

Como resultado, o saldo negativo de janeiro a agosto de 2013 caiu de US$ 7,77 bilhões para US$ 5,81 bilhões em iguais meses deste ano.

As trocas com os americanos, porém, renderam superávit ao Brasil até 2008, levando em conta os oito primeiros meses.

Um dos maiores no período mais recente foi o de janeiro a agosto de 2006, quando o saldo positivo a favor do Brasil foi de US$ 6,7 bilhões.

Rodrigo Branco, pesquisador da Uerj, diz ter havido “uma redução importante” do déficit, causada por três fatores: incremento de exportações de petróleo e de bens manufaturados, e o recuo da importação como resposta à desaceleração da atividade e do consumo doméstico no Brasil. “Ainda que a diminuição do saldo negativo tenha sido tímida e o déficit esteja em um valor alto, o resultado deste ano quebra uma sequência ruim para o comércio exterior.”

Na abertura das exportações no acumulado do ano, petróleo e aeronaves foram os principais responsáveis pelo aumento dos embarques.

Os US$ 2,27 bilhões embarcados de óleo cru no período foi uma resposta à maior demanda americana e ao incremento de 8,6% da produção doméstica brasileira, em volume, de janeiro a julho de acordo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

As aeronaves e suas partes, que dobraram o valor exportado para US$ 1 bilhão, no entanto, respondem a contratos passados assinados pela Embraer e não são reflexos diretos da melhoria da economia norte-americana, na visão de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Como são produtos feitos por encomenda, esse incremento é reflexo decisões tomadas dois, três anos atrás”, afirma.

Onde houve efeito da melhora da economia norte-americana foi nas vendas de máquinas niveladoras, café e semimanufaturados de ferro e aço fundidos, que, somados, renderam 26% a mais às exportações (US$ 2 bilhões) no acumulado do ano até agosto ante o mesmo período do ano passado.

“Então existem esses dois efeitos. Claro que alguns segmentos da economia americana estão crescendo, como construção civil, e estão puxando certos manufaturados. Mas ainda não se pode dizer que a redução do déficit seja totalmente causada pela recuperação [dos Estados Unidos]. Não fosse o bom desempenho do petróleo e aeronaves, o recuo do saldo negativo não teria sido tão forte”, diz José Augusto de Castro.

Outro movimento diferente dos resultados do ano passado foi verificado nas importações. Com a queda de produção na Argentina, o Brasil aumentou fortemente a compra de trigo norte-americano.

O uso pleno de termelétricas para assegurar o suprimento de energia elétrica no mercado interno fez o Brasil aumentar em duas vezes e meia as compras de gás natural dos Estados Unidos, assim como o maior consumo de gasolina causou maior importação de combustíveis.

A compensação dessas altas veio em menos produtos demandados pelo consumo interno brasileiro. Plásticos, máquinas industriais, partes e peças de automóveis e aeronaves desembarcaram em menor quantidade.

Welber Barral, sócio-proprietário da Barral MJorge Consultores Associados, diz que pode se ver o copo “meio cheio ou meio vazio.” Meio cheio em função de mais exportações de manufaturados e da recuperação das vendas de petróleo, causadas por aumento de volume e não de preço.

Entretanto, o copo fica meio vazio quando se compara o desempenho das exportações com os números de 2012. Sob esta ótica, o valor das vendas do Brasil aos EUA neste ano está 4,5% menor.

“As vendas aos Estados Unidos deveriam ser bem maiores. É o maior mercado do mundo e que está em recuperação, mas está havendo um desvio de comércio. Eles aumentaram mais a compra de vizinhos latino-americanos em função dos acordos de livre comércio do que com o Brasil nos últimos dois anos”, diz Barral.

Fonte: Valor Econômico, Por Rodrigo Pedroso

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