por Rui Daher
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publicado
12/09/2014
Navio cargueiro no porto de Paranaguá (PR)
Olhos e ouvidos brasileiros nunca serão poupados de comentários que lamentam nossa imperícia. Um deles é a pífia participação do país no comércio mundial. Quando de dentro para fora, principalmente.
Na contramão, olfato, paladar e tato, para quem puder pagar, serão beneficiados com perfumes franceses, trufas italianas ou cashmeres ingleses.
Fazem-nos perplexos, esfregando desempenhos melhores, sobretudo asiáticos.
Desnecessário trazer a lupa e historiar como se deu e correu o desenvolvimento da economia brasileira desde o momento em que Pero Vaz de Caminha escreveu aquela famosa carta até a cândida novidade do momento: crescer com austeridade e sem consumo para não esgotar os recursos naturais do planeta.
Isso, claro, para os que não podem pagar e devem aguardar a providência divina que, dizem, não apenas derruba aviões.
Fato é que, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), em 2011, participamos com 1,6% das exportações mundiais, lá pelo 21° lugar, rabeira que nos deixa perto da classificação “demais”, e não D+.
Pior, pouco se pesquisa. Pouca bola se dá às estatísticas e às histórias milenares de outros países.
De 1991 a 2002, entre dois eventos importantes dos governos de plantão, Plano Real e desvalorização do real em 1999, quando se passou a adotar regime de câmbio flutuante, nossas exportações cresceram 6% ao ano, insuficientes para impedir que o saldo da balança comercial permanecesse negativo ou estagnado por sete anos.
A partir de 2003, velejando em ventos favoráveis ao comércio exterior, e até 2011, nossas exportações cresceram impressionantes 17% ao ano.
Em 2012, ainda que de forma tardia em relação a outros grandes países exportadores, os efeitos da crise internacional de 2008 fizeram esse desempenho minguar. Não muito. Em relação ao recorde histórico de US$ 256 bilhões, em 2011, as exportações brasileiras de 2013 chegaram a US$ 242,5 bilhões, uma queda de 5%.
Torturas supõem perguntas não respondidas. É o que pode acontecer com os leitores caso lhe taquem na cara: “e os outros”? E aí virá, como falei no início da coluna, a China, a Coreia do Sul, quem mais? Bem, China, Coreia do Sul, ah, sei lá, Rússia, talvez, com o gás.
No período de vacas gordas para as nossas exportações, as taxas anuais de crescimento foram: Índia (23%), China (20%), Rússia (19%), Coreia do Sul e Argentina (14%), África do Sul (12%), México e Taiwan (10,5%), EUA (10%), Alemanha (8,5%), Japão (6%). Repito, fomos de 17%.
Ainda assim a tortura não cessará. “Representamos apenas 1,6% das exportações mundiais, com tendência de queda”. Se vocês não admitirem e resistirem à dor, eles poderão ir ao ano de 1950, quando nossa participação era de 2,6%.
No embalo, poderá vir um café, cafezinho, café com leite, rubiácea, em prova de que não são assim tão burros ou violentos. Reconhecem ser o que tínhamos para aquele ontem.
Desde as décadas 1980 e 1990, ocorre queda acentuada na participação das exportações dos países centrais e elevação proporcional pelos países emergentes. Uai! Não era isso o que justamente se pretendia com a globalização?
EUA, Alemanha, Japão, Holanda, França, Itália, Bélgica, Reino Unido e Canadá, em 1990, representavam 60% das exportações mundiais. Em 2011, somaram 41%. Já China, Coreia, Rússia, Singapura, México, Índia e Brasil passaram de 10% para 27% sua participação. Ver “Radiografia Comércio Exterior Brasileiro” (AEB, Rio de Janeiro, 2012).
Se não somos tão fuleiros assim, chulés de um processo tardio de industrialização, pós-de-mico da inovação tecnológica, incorretos quando a logística interfere na competitividade, e imensamente embaralhados por protecionismos fora de hora ou descaramentos subsidiados, onde, então, fomos buscar índices que não deveriam nos envergonhar ou tanto torturar?
Lutando contra a preguiça e certa fraqueza senil, sustento e analiso um calhamaço de 496 páginas: “Intercâmbio Comercial do Agronegócio” (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Edição 2013).
Mas isso “Depois eu conto”, para lembrar o ótimo colunista social Ibrahim Sued (1924-1995).
Se eu não mudar de ideia, é claro.
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