segunda-feira, 19 de maio de 2014

Queda de volume pressiona exportação de manufaturados

RedacaoT1

Daiane Santos, economista da Funcex: estimativa é de queda de 45% no valor de exportação de plataformas este ano. Foto: Leo Pinheiro/Valor

O fraco desempenho das exportações de manufaturados nos primeiros meses deste ano resultou muito mais do recuo nos volumes embarcados e menos da queda de preços.


No primeiro trimestre, os preços médios em dólar da exportação de manufaturados caíram 1,5% enquanto a quantidade embarcada recuou 6,5%, na comparação com igual período de 2013.

A combinação dos dois fatores resultou em queda de 8% no valor exportado de manufaturados de janeiro a março. Em abril a queda no valor de exportação de manufaturados se manteve.

No acumulado dos primeiros quatro meses o recuo no valor total de vendas ao exterior dessa classe de produtos chegou a 8,7%. Os dados são do Ministério Desenvolvimento (Mdic) e da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

A queda mais acentuada no volume exportado do que nos preços médios dos produtos vendidos ao exterior é considerada preocupante pelos analistas. Uma redução maior de preços médios em vez da quantidade seria considerada mais bem-vinda, porque poderia refletir a capacidade da indústria de reduzir o preço de exportação e tornar o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional, por conta da vantagem de um dólar mais forte na comparação com o início do ano passado.

A queda da quantidade exportada de manufaturados é atribuída principalmente à redução da exportação de automóveis à Argentina -o país vizinho representa 19,4% da venda total de manufaturados brasileiros ao exterior – e também pelo “efeito plataforma de petróleo”. Em março do ano passado houve uma exportação de plataforma de US$ 802 milhões. Esse tipo de operação não se repetiu durante o primeiro trimestre deste ano.

Dados da Funcex segmentando o desempenho das exportações por categoria de uso mostram que no primeiro trimestre o volume embarcado de bens de capital caiu 12,5% e os de bens de consumo duráveis, 19,9%.

Daiane Santos, economista da Funcex, lembra que as plataformas de petróleo estão classificadas entre os bens de capital. Isso explica a queda de 42% na quantidade embarcada de bens de capital em março, na comparação com igual mês do ano passado.

O grupo de bens de capital puxou a queda de 17,4% no volume de manufaturados exportados pelo Brasil no mesmo período. Para a economista, esses dados mostram o quanto o efeito Argentina e o impacto das plataformas de petróleo são relevantes para a exportação de manufaturados.

Para Daiane, as plataformas de petróleo provavelmente farão falta este ano. A Funcex, diz, estima que o valor embarcado em plataformas este ano tenha redução de 45% em relação a 2013.

Em todo o ano passado o Brasil exportou um total de US$ 7,73 bilhões em plataformas de petróleo. O valor respondeu por 8,6% do total exportado em manufaturados em 2013. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), estima que este ano o valor total em plataforma chegue a US$ 2,5 bilhões. Essa redução, diz ele, irá dificultar a recuperação da exportação de manufaturados ainda este ano.

O que agrava a situação, apontam os economistas, é que os demais itens da pauta de exportação brasileira de manufaturados não têm ajudado. Daiane lembra que mesmo tirando as plataformas da conta, há queda de exportação de manufaturados.

Levando em conta os dados do Mdic, mesmo sem considerar a plataforma de março do ano passado, houve queda de 4% no embarque de manufaturados no primeiro trimestre deste ano, contra igual período de 2013.

Para Castro, mesmo com o câmbio mais favorável à exportação, a indústria não conseguirá compensar este ano a queda na exportação de automóveis para a Argentina ou na venda de plataformas ao exterior. Para ele, não é possível contrabalançar com outros produtos ou destinos.

Mesmo considerando a balança total, que inclui básicos e semimanufaturados, diz ele, haverá dificuldade de compensar o recuo dos dois itens. “O minério de ferro tem apresentado alta de volume, mas o preço está caindo. A soja tem venda concentrada no primeiro semestre. A expectativa está em parte no petróleo, um item para o qual ainda se espera recuperação de exportação este ano.”

Fábio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados, diz que a grande concentração da pauta de exportação de manufaturados dificulta a reação de outros produtos e destinos.

No ano passado, as plataformas e os automóveis representaram 14,2% do total de manufaturados brasileiros vendidos ao exterior. A recuperação de alguns setores, diz ele, não fará tanta diferença quando se pensa no agregado.

Levando em conta a balança total, Silveira estima para este ano déficit de US$ 3 bilhões. Para 2015 a expectativa é de melhora, por conta de maior desvalorização cambial, com superávit de US$ 3 bilhões.

Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, tem opinião semelhante. Ele diz que uma reação maior dos manufaturados demanda a exploração de novos mercados. “Isso não irá acontecer no curto prazo. Num horizonte mais longo, é preciso incentivo à exportação e melhora da competitividade.”

Um real mais desvalorizado, destaca ele, ajuda o exportador, mas seus efeitos, principalmente para resultar em preços de embarque mais baixos e competitivos, demoram mais para aparecer.

“É preciso lembrar que embora o câmbio desvalorizado torne a exportação mais vantajosa, o exportador segura o preço enquanto puder e tenta negociar com o comprador. A renegociação de todos os contratos pode demorar meses, dependendo da cadeia produtiva.”

A volatilidade do câmbio, porém, diz Barral, atrapalha esse processo. “O exportador precisa sentir segurança antes de transmitir a mudança de patamar cambial para os preços.”

Por enquanto, segundo os dados da Funcex, são os bens de menor valor agregado que puxam os preços de exportação para baixo. De janeiro a março, houve redução de 5% nos preços médios de exportação. Os produtos básicos contribuíram com recuo de 6,8% e os semimanufaturados, com queda de 8,5%.

Fonte: Valor Econômico, Por Marta Watanabe

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