terça-feira, 8 de abril de 2014

Delfim Netto: situação é ‘incômoda’, mas está sob controle

Brasil Econômico - 08/04/2014
Patrícia Büll

O excesso de pessimismo sobre a economia brasileira não se justifica. A afirmação é do economista Antônio Delfim Netto, para quem vivemos uma situação econômica "incômoda". "Nada indica que caminhamos para o apocalipse ou que vamos perder o controle da política econômica. Todos os problemas são passíveis de se enfrentar, já que o país tem instituições fortes e não há nenhum desarranjo institucional", disse ontem, durante o fórum de investimento promovido pelo Bradesco BBI.

Crescimento modesto do Produto Interno Bruto, piora do equilíbrio fiscal, déficit comercial acima do considerado confortável e deterioração da indústria são os fatores que, na opinião de Delfim, colaboram para a piora da visão sobre o Brasil. Entretanto, ele garante que é possível fazer ajustes — "e serão feitos" — independentemente do candidato que vencer a eleição de outubro: "Essa política econômica precisa mudar para uma onde haja coordenação entre política monetária, fiscal e cambial".

Delfim reconhece, entretanto, que é pouco provável que o PIB cresça muito acima dos 2,3% registrados no ano passado. "Nós vivemos um regime de pleno emprego, portanto, não dá mais para esperar incorporar mão de obra para crescer. O crescimento daqui para frente vai depender da expansão da produtividade. E isso está ocorrendo através das concessões pelo setor público", afirmou. Como exemplo, ele cita que, atualmente, para escoar soja do Mato Grosso para o Porto de Paranaguá, perde-se 400 quilos de grãos. "Com a melhora das estradas, essa perda será de apenas 200 quilos, melhorando a produtividade."

Segundo o economista, a pior situação é a da indústria, que teria perdido US$ 320 bilhões desde 2006, por conta da valorização do câmbio. Para ele, a opção equivocada do governo em usar política cambial como ferramenta de combate à inflação prejudica a economia. "Mas não há nenhum risco de o governo perder o controle e a inflação ultrapassar 10% ao ano. Mas ficará namorando o teto da meta.

O maior problema é a deterioração da indústria", afirmou. Ele lembra que a produção industrial desabou desde a crise e não conseguiu mais se recuperar. "Até 2006, a indústria crescia no mesmo ritmo das vendas do varejo. A partir daí, houve uma deterioração da produção industrial, que começou a se recuperar, mas desde 2010 passa por uma estagnação que só se agrava pelo câmbio valorizado, abrindo espaço para a importação, prejudicando a produção interna", afirmou.

Para uma plateia formada majoritariamente por empresários e investidores potenciais, Delfim tentou explicar porque, apesar desses percalços, a população está mais satisfeita com o governo do que a classe empresarial. "Houve uma inclusão social muito grande nos últimos anos, que trouxe para o sistema econômico pessoas que até então estavam afastadas dele. A sociedade brasileira se sente melhor hoje do que se sentia no passado.

Isso mostra o porquê das diferenças de avaliação entre a população e a classe empresarial", afirmou Delfim disse que é preciso uma esforço para tentar vencer a desconfiança mútua entre governo e empresas privadas: "Eu reconheço que a superação dessa desconfiança é lenta, mas ela precisa ocorrer.Os senhores precisam vencer o pessimismo e dar um voto de confiança ao governo".

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