terça-feira, 22 de abril de 2014

Alta tecnologia afeta operações de câmbio

Valor Econômico - 22/04/2014
Por Lucy Meakin | Bloomberg

Os operadores de câmbio dizem ter a solução para as transações de alta frequência que corroem os lucros dos bancos nos mercados financeiros.

Uma plataforma de transações cambiais conhecida como ParFX, inaugurada em 2011 por empresas que vão desde o Deutsche Bank até o Citigroup, foi sondada no mês passado por bancos que perguntavam se sua tecnologia poderia ser aplicada a outras categorias de ativos, disse o principal executivo Dan Marcus. O sistema pausa as transações de forma aleatória, para evitar que operadores munidos de computadores de alta potência passem na frente dos investidores e obtenham vantagem.

"Esses bancos precisam, efetivamente, negociar contratos de câmbio, porque trabalham com isso, e estão protegendo sua exposição ao câmbio no mundo inteiro", disse Marcus, de Londres. "Eles preferem operar num ambiente em que podem confiar."

As transações de alta frequência estão sendo alvo de um monitoramento sem precedentes, com as investigações das autoridades reguladoras americanas e as novas e rígidas normas aprovadas pela União Europeia. Os operadores usam a tecnologia para executar ordens em milésimos ou milionésimos de segundo, e lucram com minúsculas discrepâncias nos preços dos papéis entre diferentes locais de negociação.

A relativa fragilidade da regulamentação e o grande volume tornam o mercado de câmbio, que movimenta US$ 5,3 trilhões diários, um dos alvos preferidos dos operadores de alta frequência. Mais de 35% do volume de câmbio à vista de outubro foi negociado por operadores de alta velocidade, em relação aos 9% de cinco anos antes, segundo a consultoria Aite Group, sediada em Boston.

Cerca de 30% a 35% das transações cambiais do sistema EBS da ICAP são operações de alta frequência, disse o Banco de Compensações Internacionais (BIS) em relatório de dezembro.

"O câmbio é, sem dúvida, a área para a qual as pessoas migraram nos últimos 12 a 18 meses", disse Hugh Cumberland, um dos diretores da Colt Technology Services Group de Londres. A firma fornece redes de alta velocidade a empresas de serviços financeiros. O enrijecimento das normas adotado nos outros mercados é "um estímulo para que os operadores de transações de alta frequência se voltem para outras áreas, como o câmbio", disse ele.

A ParFX foi inaugurada após um grupo dos maiores operadores de câmbio, frustrados com a chegada dos operadores de alta frequência a muitas de suas plataformas já em operação, ter contatado uma divisão da corretora suíça Cie. Financière Tradition.

O sistema começou a fazer transações em julho, e atualmente executa operações para 15 empresas, como Deutsche Bank, Citigroup, Barclays e UBS, os quatro maiores operadores mundiais de câmbio. Prevê registrar uma expansão de 25% na base de clientes até o fim de abril. A ParFX oferece um mercado transparente, submete as ordens a pausas aleatórias de cerca de 20 a 80 milissegundos, e "se constitui no esforço de cura do setor", de acordo com Marcus.

"A ideia de randomizar é, suponho, uma potencial solução", disse John Adam, diretor mundial de gestão de produtos da Portware, de Nova York, que oferece sistemas de transações de alta frequência. "Ela está mesmo pondo muita fé na randomização. Se alguém conseguir descobrir a lei de formação daquele algoritmo de randomização, isso será imensamente problemático."

Operadores de câmbio estão se defendendo das transações de alta velocidade em meio à queda dos lucros das operações cambiais.


Os trilhões de dólares que os bancos centrais injetaram nos mercados na esteira da crise financeira mundial enfraqueceram as tendências com que os operadores de câmbio contam para ganhar dinheiro. A receita de transações de câmbio dos bancos comerciais americanos totalizou US$ 1,53 bilhão no quarto trimestre de 2013, comparativamente à média de US$ 1,7 bilhão computada nos últimos dois anos, informou o Gabinete da Controladoria da Moeda americano no dia 31 de março.

O mercado de câmbio passou por suas próprias investigações. Pelo menos doze autoridades de três continentes examinam denúncias de que operadores entravam em conluio para manipular cotações referenciais. As investigações resultaram em suspensões de operadores dos EUA até Cingapura, passando pela Suíça. Nenhuma empresa ou operador foi acusado por autoridades governamentais de cometer ilícitos.

As transações de alta frequência tem sua parcela de defensores, que dizem que sua capacidade de reduzir os spreads, ou as diferenças entre os preços de compra e de venda de um ativo, reduz os custos enfrentados pelos investidores.

Entre as novas restrições da UE à estratégia de negociação, que ainda aguarda a adesão dos governos nacionais, estão normas que impedem que o incremento de preço dos títulos seja pequeno demais e exigências de que os "market makers" (formadores de mercado) ofereçam liquidez por determinado número de horas todos os dias.

O procurador-geral do Ministério Público de Nova York, Eric T. Schneiderman, informou em 18 de março que instaurou uma investigação para apurar se as bolsas e locais alternativos de negociação americanos dão vantagens indevidas a operadores de alta velocidade. O FBI também analista se eles infringem a legislação americana ao agir com base em informações não públicas.

Schneiderman enviou intimações a seis empresas de transações de alta frequência em busca de informações sobre acordos especiais que elas têm com as bolsas e as plataformas privadas de transações anônimas, conhecidas como "dark pools", e também sobre suas estratégias de negociação, segundo pessoa familiarizada com a questão.

O foco renovado nas transações de alta frequência está estimulando os participantes de outros mercados a pensar em sua própria reação. A Fidelity Investments, sediada em Boston, a segunda maior empresa mundial de fundos mútuos, disse no dia 10 que estuda a instalação de uma plataforma de ações para derrotar os operadores de alta velocidade.

"Tem havido muita insatisfação, especialmente na ponta da compra e na comunidade de gestão de ativos, com as transações de alta velocidade", disse Richard Bentley, vice-presidente de serviços financeiros da Software AG, que reúne plataformas de transações como a ParFX. "Há a percepção de que elas são parasitas. O que a ParFX fez foi essencialmente abordar a questão e dizer venham negociar na nossa plataforma, porque não vamos permitir que o pessoal das transações de alta frequência venha acabar com a brincadeira."

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