Valor Econômico - 22/04/2014
Por Marta Watanabe e Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
A falta de reação mais consistente na demanda da União Europeia e a concentrada pauta de exportação brasileira para os Estados Unidos em itens aeronáuticos devem dificultar a esperada recuperação no embarque de manufaturados ao exterior este ano, como resultado da desvalorização mais acentuada do real frente ao dólar desde o segundo semestre de 2013.
A expectativa era que esses dois mercados - historicamente entre os mais importantes para exportação de manufaturados brasileiros - pudessem neutralizar o impacto da crise argentina na exportação brasileira. No primeiro trimestre, porém, a exportação de manufaturados caiu 8% contra iguais meses de 2013, queda mais acentuada que a média da exportação total, que recuou 2,5%.
Na mesma comparação, o embarque de manufaturados para a União Europeia recuou 6,7% e, para a Argentina, 11,1%. A exportação de manufaturados para os Estados Unidos surpreendeu de forma positiva, com alta de 6,6%, mas sobretudo ancorada em aeronaves e suas partes e peças, o que joga dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento neste mercado.
Nas últimas semanas, a mudança de sentido no câmbio, com a apreciação do real contra o dólar, levou algumas consultorias a revisar o patamar de dólar previsto para o fim do ano e trouxe mais incerteza para as indústrias exportadoras.
"Além de ser uma alta concentrada em poucos itens, é uma exportação que não se sustenta no decorrer do ano", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos.
Na avaliação das empresas, porém, apesar de não haver demanda robusta para diferentes itens, os Estados Unidos ainda são o mercado externo onde há mais expectativa de crescimento quando comparado com países da Europa.
"Acredito numa recuperação mais rápida dos Estados Unidos do que na Europa", disse Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG. "Na Europa, é mais onde todo mundo sofreu. Os negócios não crescem, com exceção da Alemanha."
Schmelzer Jr. faz um comparativo que demonstra algumas diferenças entre as duas regiões. Cita que, nos últimos dois anos, o mercado de motores elétricos nos Estados Unidos caiu, mas a WEG cresceu em volume, ganhando participação de mercado. Em 2013, no entanto, a empresa constatou que o mercado americano de motores elétricos em geral não caiu. "E isso é um bom sinal [para a economia americana]", diz, referindo-se à retomada. "Na Europa, a gente não tem essas informações. As notícias são de muita dificuldade ainda", acrescentou.
Na calçadista Democrata, Anderson Melo, gestor de exportação, explica que no primeiro trimestre o crescimento da exportação ocorreu por expansão de vendas para América Latina, que respondeu por 60% do aumento, Ásia (25%) e, em terceiro lugar, a Europa (15%). O mercado europeu, diz Melo, reage de forma leve e gradativa. "Há melhoras pontuais nas vendas para Espanha e Holanda." Para os Estados Unidos, onde o fornecimento da empresa é para marcas de terceiros, o volume ficou estável.
Na Fundição Tupy, há algum otimismo com o mercado do Nafta, que inclui Estados Unidos, porque os segmentos de automóveis e veículos comerciais vêm apresentando sinais de crescimento, principalmente o mercado de picapes. Mas, segundo o presidente da Tupy, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, há dúvidas em relação ao mercado americano por conta do setor de mineração. "Em 2013, o segmento teve desempenho aquém do esperado e, em função disso, estamos cautelosos."
Em relação à Europa, Tarquínio é um dos poucos empresários que dizem ver alguns sinais positivos. "Apesar de 2013 ter começado bastante difícil, os últimos meses de 2013 passaram a esboçar um cenário de recuperação", afirmou.
Segundo Reinaldo Maykot, vice-presidente de vendas e marketing da Embraco, os Estados Unidos mostraram até agora uma recuperação mais acentuada do que os países da Europa. Maykot diz que o lado positivo é que pelo menos a Europa não está mais em queda.
Para alguns economistas, o cenário para o resto do ano indica continuidade do baixo crescimento nos Estados Unidos e quase nenhuma expansão na Europa. A GO Associados estima 2,5% de crescimento da economia americana este ano. A taxa não é de um "crescimento extraordinário", capaz de indicar elevação de demanda de manufaturados brasileiros, diz o economista Fabio Silveira. "A avaliação é de crescimento lento, já que há dúvida sobre o crescimento sustentado da indústria, da massa salarial e do varejo."
"Em relação à Europa, é preciso comprar um banquinho e sentar", afirma Silveira. A consultoria estima crescimento de 0,6% para a zona do euro, o que é considerado um avanço para uma região que até o ano passado apresentava retração econômica. "Mas entre a melhor situação fiscal dos países e a criação de um maior dinamismo econômico há um longo terreno a percorrer", avalia. No primeiro trimestre, as exportações de manufaturados à União Europeia caíram 6,7% contra iguais meses de 2013.
Para Lia Valls, economista do Ibre-FGV, o crescimento americano precisaria ser muito forte para permitir ao Brasil uma diversificação maior da pauta de exportação aos americanos. Em relação à Argentina, um vizinho considerado sempre imprevisível, e onde houve uma política de restrições de importações, Lia explica que os dados do primeiro trimestre, com queda de 11,1% no valor exportado de manufaturados, confirmam as perspectivas negativas.
A expectativa era que esses dois mercados - historicamente entre os mais importantes para exportação de manufaturados brasileiros - pudessem neutralizar o impacto da crise argentina na exportação brasileira. No primeiro trimestre, porém, a exportação de manufaturados caiu 8% contra iguais meses de 2013, queda mais acentuada que a média da exportação total, que recuou 2,5%.
Na mesma comparação, o embarque de manufaturados para a União Europeia recuou 6,7% e, para a Argentina, 11,1%. A exportação de manufaturados para os Estados Unidos surpreendeu de forma positiva, com alta de 6,6%, mas sobretudo ancorada em aeronaves e suas partes e peças, o que joga dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento neste mercado.
Nas últimas semanas, a mudança de sentido no câmbio, com a apreciação do real contra o dólar, levou algumas consultorias a revisar o patamar de dólar previsto para o fim do ano e trouxe mais incerteza para as indústrias exportadoras.
"Além de ser uma alta concentrada em poucos itens, é uma exportação que não se sustenta no decorrer do ano", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos.
Na avaliação das empresas, porém, apesar de não haver demanda robusta para diferentes itens, os Estados Unidos ainda são o mercado externo onde há mais expectativa de crescimento quando comparado com países da Europa.
"Acredito numa recuperação mais rápida dos Estados Unidos do que na Europa", disse Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG. "Na Europa, é mais onde todo mundo sofreu. Os negócios não crescem, com exceção da Alemanha."
Schmelzer Jr. faz um comparativo que demonstra algumas diferenças entre as duas regiões. Cita que, nos últimos dois anos, o mercado de motores elétricos nos Estados Unidos caiu, mas a WEG cresceu em volume, ganhando participação de mercado. Em 2013, no entanto, a empresa constatou que o mercado americano de motores elétricos em geral não caiu. "E isso é um bom sinal [para a economia americana]", diz, referindo-se à retomada. "Na Europa, a gente não tem essas informações. As notícias são de muita dificuldade ainda", acrescentou.
Na calçadista Democrata, Anderson Melo, gestor de exportação, explica que no primeiro trimestre o crescimento da exportação ocorreu por expansão de vendas para América Latina, que respondeu por 60% do aumento, Ásia (25%) e, em terceiro lugar, a Europa (15%). O mercado europeu, diz Melo, reage de forma leve e gradativa. "Há melhoras pontuais nas vendas para Espanha e Holanda." Para os Estados Unidos, onde o fornecimento da empresa é para marcas de terceiros, o volume ficou estável.
Na Fundição Tupy, há algum otimismo com o mercado do Nafta, que inclui Estados Unidos, porque os segmentos de automóveis e veículos comerciais vêm apresentando sinais de crescimento, principalmente o mercado de picapes. Mas, segundo o presidente da Tupy, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, há dúvidas em relação ao mercado americano por conta do setor de mineração. "Em 2013, o segmento teve desempenho aquém do esperado e, em função disso, estamos cautelosos."
Em relação à Europa, Tarquínio é um dos poucos empresários que dizem ver alguns sinais positivos. "Apesar de 2013 ter começado bastante difícil, os últimos meses de 2013 passaram a esboçar um cenário de recuperação", afirmou.
Segundo Reinaldo Maykot, vice-presidente de vendas e marketing da Embraco, os Estados Unidos mostraram até agora uma recuperação mais acentuada do que os países da Europa. Maykot diz que o lado positivo é que pelo menos a Europa não está mais em queda.
Para alguns economistas, o cenário para o resto do ano indica continuidade do baixo crescimento nos Estados Unidos e quase nenhuma expansão na Europa. A GO Associados estima 2,5% de crescimento da economia americana este ano. A taxa não é de um "crescimento extraordinário", capaz de indicar elevação de demanda de manufaturados brasileiros, diz o economista Fabio Silveira. "A avaliação é de crescimento lento, já que há dúvida sobre o crescimento sustentado da indústria, da massa salarial e do varejo."
"Em relação à Europa, é preciso comprar um banquinho e sentar", afirma Silveira. A consultoria estima crescimento de 0,6% para a zona do euro, o que é considerado um avanço para uma região que até o ano passado apresentava retração econômica. "Mas entre a melhor situação fiscal dos países e a criação de um maior dinamismo econômico há um longo terreno a percorrer", avalia. No primeiro trimestre, as exportações de manufaturados à União Europeia caíram 6,7% contra iguais meses de 2013.
Para Lia Valls, economista do Ibre-FGV, o crescimento americano precisaria ser muito forte para permitir ao Brasil uma diversificação maior da pauta de exportação aos americanos. Em relação à Argentina, um vizinho considerado sempre imprevisível, e onde houve uma política de restrições de importações, Lia explica que os dados do primeiro trimestre, com queda de 11,1% no valor exportado de manufaturados, confirmam as perspectivas negativas.
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