segunda-feira, 28 de abril de 2014

Dúvida sobre atuação do BC traz pressão para câmbio

Valor Econômico - 28/04/2014
Silvia Rosa e José de Castro

A decisão do Banco Central de interromper a rolagem do lote de US$ 8,733 bilhões em contratos de swap cambial, que tinha vencimento previsto para 2 de maio, trouxe dúvidas sobre a estratégia de atuação da autoridade monetária no mercado de câmbio e levou o dólar a fechar em alta de 1,26% na sexta-feira, a R$ 2,2430, acumulando valorização de 0,31% na semana.

O gatilho para o movimento de alta foi dado pelo fato de a autoridade monetária não ter realizado o leilão de rolagem na sexta-feira, interrompendo a renovação do lote de US$ 8,733 bilhões em contratos de swap com vencimento previsto para o início do mês que vem. O BC já havia substituído US$ 6,5 bilhões desse lote e o mercado esperava que a autoridade renovasse pelo menos mais US$ 1,5 bilhão até o fim do mês, deixando vencer cerca de US$ 733 milhões. Caso o BC não realize mais operações de rolagem desses papéis, o efeito prático será de uma compra de dólares no mercado futuro em valor equivalente a US$ 2,233 bilhões.

Isso provocou uma busca por dólares no mercado local para cobertura de posições compradas na moeda americana, uma vez que o mercado dava como certa uma rolagem maior. "O BC fez bem ao sinalizar que as operações de rolagem não serão como antes, porque o cenário mudou, as moedas emergentes estão se valorizando em relação ao dólar, o mercado está menos volátil e os Estados Unidos não devem subir a taxa básica de juros tão cedo", diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC.

A interpretação dos analistas é que a autoridade monetária resolveu aproveitar o momento de fluxo positivo para reduzir a posição em swaps cambiais, que já soma US$ 88,156 bilhões. "O BC deveria guardar munição para quando a taxa de juros nos Estados Unidos começar a subir no ano que vem", afirma Freitas, da CNC.

Só em abril, até o dia 23, o fluxo cambial estava positivo em US$ 2,719 bilhões, e é esperada a entrada de pelo menos mais US$ 1,5 bilhão de investidores estrangeiros para a oferta da empresa de telefonia Oi, cujo preço será definido hoje. Segundo nota publicada no Valor Pro, serviço em tempo real do Valor, a parte da oferta que foi a mercado deverá somar cerca de US$ 2,2 bilhões. Descontando desse total US$ 500 milhões da oferta prioritária, cerca de US$ 1,7 bilhão deverá ser absorvido pelos investidores.

O BC já havia deixado de rolar US$ 2,648 bilhões do lote de US$ 10,148 bilhões em contratos de swap cambial que venceram em 1º de abril. Mesmo assim, o dólar acumula queda de 1,5% no mês.

Para Freitas, a taxa de câmbio já atingiu um piso próximo a R$ 2,20 e agora tem espaço para subir, mas não é esperada uma forte desvalorização do real. Isso porque o cenário externo segue favorável para o fluxo de recursos para emergentes, especialmente para renda fixa, e o Brasil, com uma taxa de juros em 11% ao ano, deve continuar liderando esses ingressos. Ele prevê um câmbio entre R$ 2,20 a R$ 2,35 no curto prazo. "Não vejo o câmbio muito além de R$ 2,30, a não ser que tenhamos um dado econômico muito forte nos Estados Unidos que leve o dólar para R$ 2,40."

O diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros, também acredita que a forte alta do dólar é pontual. "O mercado sabe que, se a situação piorar, o BC ofertará mais dólares", diz, destacando que o BC deve continuar com o programa de intervenção no câmbio no segundo semestre. O BC anunciou que manterá o programa até 30 de junho. Hoje ele oferta US$ 200 milhões por meio da realização de leilões diários de swap cambial.

Para o executivo da tesouraria de um banco estrangeiro, apesar do fluxo positivo, o BC deve estender o programa, uma vez que é esperado um período mais volátil no segundo semestre e o governo não vai querer correr o risco de enfrentar uma desvalorização cambial no meio das eleições.

Além disso, Freitas, da CNC, lembra que o BC não tem muito espaço para permitir uma desvalorização da taxa de câmbio, dada que a inflação está próxima do teto da meta (de 6,5%).

Ele destaca, no entanto, que o BC errou ao colocar um calendário para as intervenções no mercado de câmbio. "As intervenções têm de existir quando são necessárias, não se pode dar um guidance para o câmbio, é muito difícil avaliar o momento de começar e de quando se deve parar."

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