CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 04/02
A balança comercial (exportações menos importações) acusou em janeiro um rombo recorde que já vinha sendo antecipado nos radares, de US$ 4,1 bilhões. Só para comparar, em todo o ano de 2013 houve saldo positivo (superávit) de US$ 2,7 bilhões e, ainda assim, conseguidos com as tais "exportações fíctias" de US$ 7,7 bilhões, de sete plataformas de petróleo, que não saíram das águas nacionais.
Em janeiro de 2013, o déficit comercial foi quase igual, de US$ 4,0 bilhões, mas esses números não são comparáveis porque importações de petróleo que deveriam ser registradas ainda em 2012 ficaram para janeiro de 2013 e inflaram artificialmente as estatísticas.
Os números ruins deste ano chegam num momento em que as contas externas como um todo, e não apenas as do comércio, vêm mostrando deterioração. Isso parece indicar que a economia precisa de suprir-se de mais dólares para honrar seus compromissos e, no entanto, a temporada é de crescente escassez de moeda estrangeira no mercado internacional.
Os analistas do governo não veem problema - ou, pelo menos, preferem dizer que não há problema. Confiam em que a Petrobrás aumentará sua produção neste ano em pelo menos 10% e isso ajudará a reduzir as importações.
Também confiam na recuperação das exportações de manufaturados, baseados em que o real desvalorizado em pelo menos 20% em relação ao dólar barateou o produto nacional lá fora. Esse efeito pode ter começado a aparecer nas exportações, mas é difícil de prever seu alcance. A indústria brasileira continua pouco competitiva. E, como está muito dependente de suprimento externo de máquinas, peças e componentes, não está claro que mostre desempenho melhor. E há o problema da Argentina. Nada menos que 8% das exportações do Brasil vão para lá. Desse mato sairão menos coelhos, porque a perspectiva especialmente para a Argentina que tem um calote nas costas é de falta de dólares para pagar compromissos externos. E a provável recuperação do comércio mundial também não ajuda porque o Brasil fez sua opção pelos pobres, especialmente pela Argentina e pela Venezuela, e não demonstrou nenhuma questão de fechar acordos comerciais com os países de ponta. É possível que as exportações das safras favoreçam alguma recuperação da balança comercial. Mas não há segurança nisso.
O enfraquecimento da balança comercial tem as mesmas causas do aumento da vulnerabilidade geral da economia brasileira. Trata-se da excessiva pressão do consumo não acompanhado de aumento da produção interna, que puxa pelas importações - a começar pelos combustíveis.
Como as causas são as mesmas, o ajuste também começaria pelo mesmo procedimento: forte redução das despesas públicas, de maneira a conter o consumo e resgatar a confiança externa. Mas vá saber se há disposição para isso no governo Dilma, que hoje não pensa em outra coisa senão em garantir não apenas a reeleição, mas, também, aumento da base política para seu partido.
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