CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/02
Ninguém esperava retração tão forte da produção industrial em dezembro: queda de 3,5% em relação a novembro.
Dezembro é, em geral, um mês mais fraco para a indústria, pela temporada de final de ano e pelas férias coletivas. Todos os anos têm dezembro mais ou menos assim - o que é verdade - e, no entanto, este foi o pior dezembro para a indústria desde 2008, que foi o do auge da crise global.
O mau desempenho compromete o resultado do PIB de 2013 e carrega o baixo empuxo para o primeiro trimestre de 2014. De todo modo, o dado mais preocupante não é o recuo em relação a novembro, mas a queda generalizada, que atingiu 22 dos 27 subsetores da área.
Praticamente de tudo quanto a indústria pediu para o governo foi dado muito ou um pouco. A indústria quis mercado interno, pois teve mercado interno, já que o consumo cresce à proporção de 5% a 6% ao ano. O governo deu câmbio (desvalorização cambial de 3,4% entre agosto e dezembro de 2013); deu crédito, um bom pedaço dele subsidiado; deu redução de impostos, principalmente para a indústria de veículos, aparelhos domésticos, mobiliário e materiais de construção; deu desoneração de encargos sociais, que, em 2013, reduziu a arrecadação em R$ 60 bilhões; continuou proporcionando enorme proteção alfandegária para praticamente todos os setores; deu reserva de mercado para importantes segmentos, especialmente para a área de petróleo; e deu redução de tarifas de energia elétrica. A indústria não quis enfrentar mais concorrência com a abertura de mercado por meio de acordos comerciais? Pois o governo a atendeu, recusando negociações no âmbito da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e com a União Europeia.
E, no entanto, a indústria patina. Seu nível de competitividade é baixo, o de investimento, também; o de inovação, mais ainda. Por mais que conclame o empresário a soltar o espírito animal, a presidente Dilma não consegue ser atendida.
A leitura do governo é a de que a indústria precisa de política industrial. Pois teve a tal política industrial consubstanciada nos itens acima citados. Mas será por aí? Ou a melhor política não seria cuidar da solidez dos fundamentos da economia e do crescimento sustentável?
Mas isso não é tudo. O empresário não tem confiança no governo e vice-versa. Ele identifica no governo um viés intervencionista, que achata seus lucros. E o governo às vezes sugere que o empresário não tem espírito público, porque só pensa em levar vantagem.
O que parece permear tudo é certa deterioração do ambiente de negócios porque toda a política econômica está vulnerável. A política de administração das finanças públicas não é austera o suficiente para controlar a inflação e, ao mesmo tempo, dispensar a disparada dos juros básicos; a carga tributária é desencorajadora; a infraestrutura é precária e cara demais; os investimentos são insuficientes; as regras do jogo não passam firmeza; as reformas não andam.
Ora, direis, ouvir lamúrias... Também não dá para seguir afirmando que os problemas se devem à crise externa. As mazelas são nossas. E as lambanças, também.
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