segunda-feira, 14 de maio de 2012

Preços de bens importados da China aumentam acima da média


Autor(es): Por Marta Watanabe | De São Paulo
Valor Econômico - 14/05/2012
A pressão de custos, a inflação e a apreciação do yuan em relação ao dólar fizeram o preço do produto chinês crescer mais que a dos demais fornecedores externos. De 2008 - último ano do período pré-crise, quando os preços dos importados estavam em patamar alto - até 2011, o preço médio dos bens importados pelo Brasil cresceu 5,46%, enquanto o preço com origem na China subiu 6,97%.
A maior alta do preço chinês foi puxada pelos bens de consumo não duráveis e pelos bens de capital. Nessa categoria de uso, o preço médio dos produtos chineses aumentou 5% de 2008 para 2011, enquanto o do total da importação brasileira foi de 1,3%. Em bens de consumo não duráveis, no mesmo período, os importados de todo o mundo ficaram 13,5% mais caros, mas àqueles provenientes da China subiram 26,97%, segundo dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
Nos intermediários e bens de consumo duráveis, porém, a alta dos preços dos bens produzidos na China foi menor que o do total da importação brasileira. Os intermediários comprados dos chineses tiveram aumento de 4,5% de 2008 para 2011 enquanto a importação total do Brasil de intermediários teve alta de preço de 6,6%. Os bens de consumo duráveis origem China tiveram preço elevado em 8,8% enquanto o total importado pelo Brasil nessa categoria de uso ficou 9,1% mais caro. Para economistas, a importação brasileira de veículos chineses, intensificada em 2011, complica a comparação dos dados de bens de consumo duráveis.
"A menor alta no preço dos intermediários é resultado de um foco maior nos últimos anos, pelos chineses, em produtos acabados e de maior valor agregado, como bens de capital e bens de consumo", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Nos últimos quatro anos, diz Rodrigo Branco, economista da Funcex, houve um processo inflacionário muito importante na China puxado principalmente pelo setor imobiliário. Isso, aliado à grande elevação de salários, mudou o interesse do governo chinês, que passou a incentivar cadeias produtivas de bens com maior valor agregado, como máquinas e equipamentos. Para Branco, a alta de preços dos importados chineses tem sido determinada até agora por inflação e aumento de custos chineses, sem contribuição, por enquanto, da apreciação do yuan. Nos últimos dois anos, o yuan se apreciou cerca de 18% em relação ao dólar, movimento que encareceu o produto chinês em relação ao brasileiro.
Os intermediários ainda representam perto de 40% da pauta da importação brasileira de produtos chineses. Os bens de capital, porém, já representam parcela importante, com fatia de 35%. Os bens de consumo são responsáveis por 25%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
"Além de câmbio, o custo da mão de obra deve ser um dos principais fatores que deu ao bem de consumo chinês não durável uma variação maior de preço", diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. Ele lembra que a fabricação desses produtos é mais intensiva em mão de obra, o que torna esse custo de produção mais representativo.
O reaquecimento do mercado doméstico brasileiro a partir de 2010 permitiu a elevação de preço das mercadorias chinesas, após o recuo generalizado dos valores de comercialização em 2009. A forte demanda do mercado interno propiciou também, diz Campos Neto, uma mudança no mix de produtos que os chineses vendem ao Brasil, outro componente que contribuiu para a elevação de preço nessa categoria de uso. "Como resultado da pressão interna de custos na China, a fabricação de produtos mais baratos está migrando para outros países asiáticos e a produção chinesa tem ficado com os produtos de maior valor agregado", explica o economista.
Nos preços de máquinas e equipamentos "made in China", diz Campos, a influência do yuan valorizado é maior. "Em bens de capital o efeito do câmbio é mais puro porque a pressão de custos salariais nesse setor é menor." A ofensiva dos chineses no mercado brasileiro de bens de capital e de consumo também pode ser explicada, diz Campos Neto, pela ociosidade resultante da fragilidade econômica de mercados como o europeu e o americano.

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