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Sem alarde, o Brasil começou a retaliar a Argentina e, desde terça-feira, está aplicando o chamado licenciamento não automático na entrada de pelo menos uma dezena de alimentos importados por empresas brasileiras do país vizinho. Entre os produtos parados na fronteira estão maçã, uva- passa, batata, farinha de trigo e vinho. Segundo técnicos do governo, a ideia de barrar produtos perecíveis faz parte da estratégia para forçar os argentinos a reverem as ações protecionistas que vêm sendo adotadas contra o Brasil.
- Produtos duráveis podem aguardar a liberação por dias ou meses. Já alimentos provocam mais reclamação - admitiu um técnico. Somados esses produtos a outros que já estavam sob esse regime, como automóveis, o peso dos itens com licenciamento não automático na pauta de exportações da Argentina para o Brasil passa a ser significativo. Técnicos do governo estimam que as restrições poderão atingir de 60% a 70% da pauta. Há, ainda, um aspecto simbólico, que é a restrição a produtos como a maçã argentina, que tem grande aceitação no Brasil. Desde o início do ano, o governo argentino tem fechado seu mercado e exigido que empresários daquele país apresentem uma declaração antecipada de importação (que torna o processo mais burocrático) ao comprarem bens de consumo. Na prática, isso dificulta a entrada das mercadorias brasileiras em seu território. Embora o Brasil venha tentando negociar a suspensão dessas medidas, a avaliação é que houve pouco avanço. - A maior evidência é que nossas vendas para o mercado argentino têm caído fortemente - destacou o técnico. Além dos problemas que atingem os bens industrializados produzidos no Brasil, devido à imposição de barreiras protecionistas, questões específicas ligadas a produtos primários ou básicos irritam o governo brasileiro. Uma delas diz respeito à carne suína. Os argentinos impuseram cotas de importação, e nem os apelos do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, que chegou a viajar a Buenos Aires tentar resolver o problema, sensibilizaram as autoridades argentinas. Chanceleres tentam costurar acordo Para se ter ideia de quão fechado está o mercado argentino, as exportações para o país vizinho subiram 5,04% em fevereiro; em março, o quadro mudou e foi registrada uma queda de 18,8%; já em abril, as vendas despencaram 27,1%. - A situação é grave e requer uma atitude mais enérgica. Não dá para continuar relevando - disse uma fonte do governo. Ao longo do fim de semana, técnicos do governo brasileiro tentaram negociar com a Argentina um acordo para acabar com as resistências de ambos os lados no comércio bilateral, mas nenhum avanço foi obtido. O assunto voltará a ser debatido hoje, quando o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, se reúne com o chanceler argentino, Hector Timmermann, no Palácio do Itamaraty. Embora o Ministério das Relações Exteriores tente separar as relações comerciais das diplomáticas, é inegável que o crescimento do protecionismo por parte da Argentina prejudica o diálogo. No último relatório divulgado pelo Global Trade Alert (GTA), coordenado pelo Centro de Pesquisa em Política Econômica (CEPR, na sigla em inglês), o país vizinho aparece no topo de um ranking de nações que estão impondo barreiras aos produtos estrangeiros para proteger o mercado interno. O relatório alerta que o grande desafio para o comércio mundial em 2012 é administrar esse cenário, após um aumento expressivo de iniciativas protecionistas em várias partes do mundo, em 2011. De acordo com o documento do GTA, a União Europeia se mantém como a região que mais aplica medidas restritivas (242), seguida por Rússia (112) e Argentina (111). O Brasil aparece em 9º lugar, com 49 registros. |
terça-feira, 15 de maio de 2012
Brasil começa a retaliar a Argentina
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