terça-feira, 29 de maio de 2012

Dólar em alta chegou tarde e não vai ajudar exportações neste ano

Brasil Econômico - 28/05/2012
Contratos de venda de commodities e de manufaturados foram fechados antes do novo movimento cambial
Chrystiane Silva


Os exportadores sempre reclamam quando a moeda brasileira está valorizada em relação ao dólar. Os produtos ficam mais caros no exterior e eles recebem menos reais pelas vendas. Com a crise financeira internacional, desde o começo do ano o real já se desvalorizou 30% em relação ao dólar, mas os efeitos dessa mudança no câmbio só serão percebidos pelos exportadores em 2013. Grande parte dos contratos de venda foi fechada quando o real estava valorizado em relação à moeda americana.

Além disso, a maior parte das exportações brasileiras, 71%, são commodities, geralmente, produtos agrícolas que têm os preços definidos no mercado internacional, e não sofrem interferência das mudanças no câmbio. Como os principais compradores mundiais estão em crise - a economia chinesa está em desaceleração, os Estados Unidos estão demorando a voltar a crescer e os países europeus patinam na crise financeira -, as compras de produtos agrícolas foram reduzidas e, consequentemente, os preços caíram. O resultado desses movimentos foi uma redução no volume de exportações por dia útil de 6,8% em abril, em relação a março.

Boa parte da safra de soja já foi embarcada para aproveitar uma pequena elevação do produto que aconteceu no começo do ano, quando o valor da tonelada saiu de US$ 400 para US$ 550. Das 30 milhões de toneladas que são exportados todos os anos, 12 milhões já foram embarcadas e 8 milhões devem ser embarcadas até o final deste mês. "Geralmente, o embarque de soja começa em maio, mas neste ano, houve uma antecipação e o exportador deixou de ganhar com a variação cambial", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Os outros 29% de exportações brasileiras são basicamente produtos manufaturados e boa parte é exportada para a Argentina, que é o terceiro parceiro comercial do país. Os manufaturados, que competem com produtos de outros países e por isso precisam ter preços mais atrativos, são mais beneficiados pelas variações cambiais.

O principal comprador dos produtos nacionais é a Argentina, mas desde o início do ano, o governo vizinho tem adotado medidas para dificultar a importação de produtos brasileiros. As exportações para o vizinho caíram 27,1% em abril, em relação ao mesmo período de 2011.

Diante do fraco desempenho da economia mundial, o governo tem poucas alternativas para estimular as vendas ao exterior. Já foi anunciada a restituição de 3% do valor das exportações de manufaturados e o fim do passivo de R$ 19 bilhões de pedidos de ressarcimento de PIS/Cofins nas exportações. "O governo precisa de uma política de comércio exterior agressiva, com mais acordos internacionais e promoção das exportações", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

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A maior parte das exportações brasileiras, 71%, são commodities, geralmente, produtos agrícolas que têm os preços definidos no mercado internacional

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