quarta-feira, 16 de maio de 2012

Dólar já passa de R$ 2 e anima a indústria, apesar da alta de custos


Brasil Econômico - 16/05/2012
Encarecimento de insumos e componentes é mais gerenciável que competição com produto final importado
Juliana Garçon
Com a tensão no cenário externo, agravada pelo tumultuado quadro político da Grécia, o dólar deu continuidade à valorização iniciada na segunda-feira e registrou ontem alta de 0,58%, rompendo a barreira dos R$ 2 pela primeira vez em quase três anos. E a indústria agradece. Até setores que usam insumos e componentes importados estão comemorando a apreciação da moeda americana, apesar do aumento de custos que se impõe no curto prazo, até que se façam negociações com os fornecedores nacionais.

Isso porque a concorrência com produtos manufaturados em outros países sufoca muito mais os negócios e, neste caso, não há como se adaptar ao cenário, trocando de fornecedor. É o caso, principalmente, de segmentos que competem com importados da Ásia, como os eletrônicos e itens de informática. "Nos patamares em que o dólar esteve nos últimos tempos, não era possível produzir no país de forma competitiva, nem mesmo usando os chips importados, porque ainda assim os bens finais ficavam mais caros do que os industrializados em países com maior vantagem cambial", diz Antonio Motta, diretor geral da Texas Instruments para a América do Sul.

Na indústria química, cujos custos serão impactados pela alta do petróleo e outros insumos, vale amesma lógica. "O problema não é com materiais, mas a competição com produtos finais. Se a matéria-prima subir, subirá para todos e cabe a cada um buscar eficiência", diz Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), que torce para que a divisa continue se valorizando. "Dólar a R$ 2 é bom, mas a R$ 2,20 é melhor."

Por isso, nem mesmo a fase de maquinário importado mais em conta deixa saudade. "Até porque, equipamentos importados implicam maior complexidade de assistência técnica", defende Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria de SP).

Embora seja uma notícia positiva para a maior parte dos setores industriais, a valorização ainda não é capaz de reverter a penetração de importados em setores mais tradicionais, como de têxteis, vestuário e calçados, avalia Rogério Cesar de Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Para o consumidor, a pergunta que não quer calar é se haverá repasse da alta nos produtos finais. "No primeiro momento, deve haver aumento de preços. Se o dólar ficar neste patamar, como é provável, teremos substituição de importações", diz o economista Ricardo Carneiro, professor e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Velozes e custosos

Quem está sofrendo mesmo com a alta do dólar são os revendedores de veículos importados. A participação deles no total de veículos comercializados no país, que variou entre 6% e 7% no ano passado, caiu para 4,87% em abril, de acordo com a Abeiva (Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores). "A desvalorização do real vem a se somar como fator de complicação para o nosso segmento, que já era onerado pela alíquota de importação (35%) e pelo IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de 30 pontos percentuais, sem falar no acesso ao crédito, que tem maior restrição para importados", diz Ricardo Struntz, diretor financeiro da entidade. Além disso, o ciclo de importação leva entre 90 e 150 dias, dependendo da origem do carro. "Pior que a valorização é a volatidade, pois encomendamos o veículo com a cotação a R$ 1,70 e vamos fazer a venda a R$ 2."

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