Autor(es): Por Sergio Lamucci e Tainara Machado | De São Paulo |
Valor Econômico - 03/05/2012 |
Os dados da balança comercial de abril reforçaram a preocupação com a dificuldade de recuperação da atividade econômica no segundo trimestre, ao mostrar queda das importações e das exportações. As compras externas de matérias-primas e bens intermediários caíram 6,6% em relação a abril de 2011, indicando fraco apetite da indústria por insumos, enquanto as de bens de consumo recuaram 11%, um sinal de menor fôlego da demanda por bens acabados. Já as exportações de produtos básicos tiveram queda de 7,2% e as de industrializados, de 8,2%, reiterando o mau momento da demanda externa.
Para completar, outros indicadores apontam para um desempenho ruim da atividade em abril, como o licenciamento de automóveis e o consumo de energia elétrica, ao passo que duas pesquisas realizadas com executivos da indústria - a Sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) do HSBC- confirmaram um quadro de fraqueza nas demandas externa e interna.
O PMI caiu de 51,1 pontos em março para 49,3 pontos em abril, feito o ajuste sazonal, ficando pela primeira vez abaixo de 50 desde dezembro, o que indica contração da atividade industrial. É um indício de que o esperado avanço em março da produção industrial sobre fevereiro, a ser divulgado hoje, não deve configurar uma tendência - as previsões são de uma alta na casa de 1% a 1,5%, na série livre de influências sazonais. Para o economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, os indicadores relativos a abril conhecidos até agora acendem "um sinal amarelo" sobre a indústria no começo do segundo trimestre.
Indicador acompanhado com mais atenção pelos economistas, o PMI de abril mostrou que "tanto a produção quanto o volume de novos pedidos dos fabricantes brasileiros caíram em relação a março, com as empresas citando, em geral, a demanda mais fraca por parte dos clientes", segundo o HSBC.
O economista Constantin Jancsó, do HSBC, destaca que a piora apontada pelo PMI foi generalizada, com a maior parte dos componentes do indicador caindo abaixo de 50 - caso dos índices de produção, novos pedidos, emprego e compra de insumos. Para Jancsó, o PMI sugere um desempenho pior para a indústria em abril, possivelmente frustrando a recuperação que se esboçou nos dois meses anteriores. A dificuldade em exportar, dada a atividade global capenga, e perda de competitividade em relação ao importado afetam o desempenho da indústria, diz ele.
As vendas de veículos também decepcionaram em abril. O licenciamento de automóveis e comerciais leves caiu 8,3% em relação a março, segundo o ajuste sazonal da LCA, calculado com base nos números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) até o dia 27 do mês passado. O de caminhões e ônibus recuou 14,5%. Esses dados ajudam a entender o aumento de estoques no setor apontado pela sondagem da FGV, especialmente de caminhões e ônibus.
Para o economista Robson Pereira, do Bradesco, parte do aumento da produção esperado para março resultou em alta de estoques, especialmente na indústria automobilística. Em abril, acredita ele, a necessidade de ajustá-los deve ter levado a uma queda da indústria. A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, projeta aumento de 0,6 % da produção industrial de abril em relação a março, mas afirma que dados antecedentes, como o licenciamento de veículos, podem forçar uma revisão para baixo dessas estimativas. "Não me surpreenderia que a indústria voltasse para o terreno negativo em abril."
Uma indústria fraca demanda menos insumos e matérias-primas, o que ajudaria a explicar o recuo das importações desses produtos em abril. Para Rafael Bistafa, da Rosenberg & Associados, os dados já divulgados em abril, com ênfase no desempenho da balança comercial, indicam dificuldade de recuperação da atividade. "Ainda não conseguimos enxergar a economia pegando força."
Pessoa diz que as barreiras à entrada de produtos na Argentina contribuíram para o mau resultado das exportações em abril, mas destaca também as incertezas em relação à economia global, com "Europa em recessão, EUA em desaceleração e China em crescimento mais lento do que se esperava", como diz relatório da LCA. Esse é um dos fatores que levaram a consultoria a apostar que a taxa Selic, hoje em 9% ao ano, será reduzida para 8,5%. Os outros motivos são "o ritmo ainda incerto de reativação da economia doméstica e de melhora do mercado interno de crédito" e a percepção de inflação comportada no curto prazo, além da decisão do governo de mudar as regras de remuneração da caderneta.
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quinta-feira, 3 de maio de 2012
Importação reforça sinais de atividade fraca
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