sexta-feira, 25 de maio de 2012

Aumenta pressão de países ricos para acordo comercial

Valor Econômico - 24/05/2012
Por Assis Moreira | De Paris


Os países desenvolvidos, sofrendo deterioração econômica, aumentaram as pressões ontem sobre os emergentes para obter um acordo global de facilitação de comércio o mais rápido possível, a fim de aumentar suas exportações. Mas uma reunião de ministros de Comércio, organizada em Paris pela Austrália, de novo terminou em confronto entre desenvolvidos e países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de Maurício, que representa as nações mais pobres.

O argumento da União Europeia, Estados Unidos, Japão, Austrália, Canadá e outros desenvolvidos, foi de que, no meio do impasse da Rodada Doha, pelo menos se poderia já fazer um acordo de facilitação de comércio isoladamente de outros temas na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A avaliação é de que só as 25 páginas desse tema no pacote da Rodada Doha, que não decolou até hoje, valem mais que todo o resto da negociação global, podendo ampliar o comércio internacional em pelo menos US$ 600 bilhões.

O Brasil e outros países em desenvolvimento reagiram ontem, basicamente por causa de dois pontos: primeiro, os ricos não querem pagar pela concessão que pedem; e segundo, veem risco de, uma vez tendo conseguido facilitação de comércio, os ricos enterrem de vez a Rodada Doha e temas que interessam às nações em desenvolvimento.

Os países emergentes cobram para fazer uma concessão que implica perder margem de manobra para frear importações com mecanismos aduaneiros. A barganha poderia incluir a eliminação de subsídios à exportação agrícola ou abertura total dos mercados desenvolvidos para exportações de países mais pobres.

Apesar do confronto, o ministro australiano de Comércio, Craig Emerson, tentou tirar a conclusão de que todos concordavam em fazer um acordo de facilitação de comércio. O Brasil e a Índia reagiram, além da China, África do Sul, Argentina e Maurício. O ministro australiano resolveu dizer então que nem todos podiam se comprometer com um acordo.

"Para o Brasil, nesta altura das negociações não há espaço para resultados seletivos", afirmou o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo. "Todos têm que contribuir e só resultado em facilitação de comércio não é equilibrado." Um negociador disse que os desenvolvidos parecem querer ignorar a resistência dos emergentes. "Eles só ouvem o que querem", comentou.

Em entrevista coletiva, o representante comercial dos EUA, Ron Kirk, acenou com um gesto: acelerar nas próximas semanas a adesão à OMC de uma série de países pobres, com menos exigências de liberalização. Depois, esperam obter ajuda na área de facilitação de comércio.

O ministro canadense, Ed Fast, insistiu que ainda dá para fazer algo no curto prazo com o que é possível, se outros temas não decolam na OMC.

Para o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, o pano de fundo da negociação de ontem foi o péssimo estado da economia mundial. Argumentou que o comércio internacional está caindo e facilitar exportações e importações pode ajudar a frear a deterioração global.

Minutos depois da coletiva, o Centro de Estudos Econômicos da Holanda anunciou que o comércio internacional sofreu contração de 0,2% em março, comparado ao mês anterior. Exportações e importações de economias avançadas aumentaram ligeiramente. No caso da zona do euro, o crescimento das exportações foi fraco e as importações caíram 2,7% na comparação com fevereiro. O comércio dos emergentes declinou. Somente as importações de alguns asiáticos tiveram pequena alta.

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