Valor Econômico - 17/05/2012
Para Schiff, dólar se desvalorizará quando crise de dívida atingir os EUA
Por Filipe Pacheco
Peter Schiff insistiu antes do estouro da crise de 2008 que uma bolha financeira com base em ativos hipotecários se inchava nos Estados Unidos. Comentarista das redes de TV Bloomberg, CNBC, e Fox News, ele acertou em muitos pontos - especialmente quanto à desmontagem do setor imobiliário -, mas também previu um colapso do dólar logo em seguida, que não ocorreu. Hoje, ele insiste no declínio da moeda americana, prefere economias asiáticas a latinas e critica reservas em dólar mantidas por países como o Brasil, como dito em entrevista ao Valor durante rápida visita a São Paulo.
Diretor-executivo e estrategista-chefe da gestora de recursos Euro Pacific Capital, Schiff criticou as reservas brasileiras aplicadas em ativos em dólar porque acredita em um colapso "de grandes proporções" da moeda para breve. Segundo ele, a forte perda de valor do dólar será entre 2013 e 2015, decorrente principalmente de uma crise de dívida soberana nos EUA parecida com aquela vista hoje na Europa, "só que em proporções muito maiores". Por isso, Schiff avalia que o modelo de desvalorização cambial para o real é perigoso, e que as reservas estrangeiras do país deveriam ser feitas em ouro, e não em dólar.
"A quantidade de dólares em mãos de bancos centrais de países emergentes, entre eles o do Brasil, é enorme. É como se o mundo acumulasse uma grande pilha de dinheiro que não valerá nada no futuro", diz o economista, ao ponderar que a China figura como uma exceção, por ter aumentado a proporção das suas reservas em ouro.
Schiff não revela qual a proporção dos investimentos da sua gestora, cuja sede fica em Westport, Connecticut, em ativos de países emergentes, mas também deixa clara a sua falta de apetite pelo Brasil. Ele contou que a empresa investe no país por meio de fundos mútuos que compram principalmente ações dos setores de telecomunicações e energia, mas a exposição a Sudeste Asiático ainda é maior.
"Preferimos o sudeste asiático porque há uma cultura de menor dependência e interferência do governo que o Brasil", disse o especialista, que esteve em São Paulo para fechar a Terceira Conferência da Escola Austríaca, corrente econômica que defende interferência mínima dos governos na economia.
"A crise na Europa só alimenta uma crise futura nos Estados Unidos. O mundo ainda compra treasuries (papéis de dívida soberana dos EUA) e dólares, e assim apenas ganhamos tempo. Só que não poderemos pagar por tudo isso. É como se fizéssemos um pacto com o diabo", acrescentou o "guru". Para ele, os grandes bancos americanos, como J.P. Morgan, Bank of America e Citigroup, estão extremamente alavancados, não sobreviveriam a um cenário de juros mais altos e estarão no olho do furacão que hoje se forma lentamente.
Em tom ácido e típico do noticiário televisivo americano, Schiff não poupou a economia de seu próprio país de comparações apelativas. "Lembre-se da Grécia: há alguns anos eles estavam tão quebrados quanto hoje, e ninguém ligava."
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