O Globo - 29/05/2012
Equipe econômica vê perda de US$ 2 tri no mundo com saída da Grécia do euro
Gabriela Valente
BRASÍLIA. O governo guarda uma carta na manga para incentivar a economia brasileira quando a turbulência internacional se agravar: a revogação das medidas para conter o crédito. Elas foram adotadas a partir de 2010 para frear não apenas a atividade, que crescia além do potencial, mas também a valorização do real frente ao dólar. A estratégia que se discute nos bastidores do governo é reservar esse arsenal para um momento mais crítico, ao primeiro sinal de colapso no front externo.
A equipe econômica trabalha com um "cenário binário": ou a economia grega abandona o euro ou a chanceler alemã, Angela Merkel, e toda a defesa da austeridade perderão força. Nas duas hipóteses, a expectativa é que o desfecho dessa crise provocará forte impacto também no Brasil. O governo brasileiro trabalha com uma previsão de perdas de até US$ 2 trilhões para economias do mundo com a saída da Grécia da zona do euro.
Se essa ruptura grega for traumática e desorganizada, pode haver um congelamento do crédito no mundo, como aconteceu quando o banco de investimento americano Lehman Brothers quebrou em 2008. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já previu uma "hecatombe" se a Grécia deixar o bloco do euro de uma forma dramática.
De todo o arsenal usado nos últimos dois anos, apenas duas medidas foram revistas: a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de derivativos para os exportadores e a que punia o banco que financiasse veículos e fizesse contratos longos de crédito consignado. Essa última foi revisada parcialmente. Foi mantida a punição para a instituição financeira que fizer empréstimo para compra de automóveis acima de 60 meses.
Estão mantidas outras 14 barreiras à entrada de capitais de curto prazo no país, adotadas quando o governo reclamava que um tsunami de dólares chegava via mercado financeiro no Brasil. Hoje, a situação é bem diferente. Só neste mês, houve uma saída de US$ 5,2 bilhões de aplicações financeiras.
O governo pode ainda retirar o IOF para contratos de swap - que na prática funcionam para a venda de dólares no mercado futuro - e mudar o cálculo da exigência para a posição dos bancos, ou seja, liberar as instituições para vender moeda americana e rever o limite de pagamento antecipado de importação. Além disso, pode derrubar barreiras para a entrada de dólares para empréstimos com prazo inferior a três anos e revogar o IOF para compras no cartão de crédito no exterior.
Medidas do BC no câmbio surtiram efeito desejado
A avaliação até agora é que as intervenções feitas no mercado de câmbio pelo Banco Central (BC) têm surtido o efeito necessário. Outros dados reforçam um cenário ruim pela frente. Na análise de governo, os problemas da Europa, como um mercado de trabalho rígido e ineficiente, reduzem as ferramentas para incentivar a economia.
Outra preocupação vem da Ásia. A China, destacam integrantes da equipe econômica, está mudando o modelo de crescimento, já que a fórmula baseada no investimento se exauriu. E crescerá menos, o que afetará o desempenho da economia.
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