Autor(es): Vivian Oswald |
O Globo - 27/05/2012 |
BRASÍLIA. Ainda não há vencedores na queda de braço entre o mercado financeiro e o Banco Central (BC) sobre o câmbio. Dentro e fora do governo, avalia-se que é cedo para saber se o dólar mudou mais uma vez de patamar. A ordem, por enquanto, é evitar as oscilações bruscas, que afetam negativamente tanto o mundo das finanças como o setor produtivo. Na visão de analistas, a excessiva volatilidade da moeda americana nos últimos dias indica que os investidores estariam testando as armas do BC para enfrentar a crise.
Com a forte reação da autoridade monetária, ficou evidente que, como aconteceu em 2008, existe munição para enfrentar o mercado. O BC vendeu US$ 4 bilhões somente na semana passada - menos do que os US$ 6 bilhões de quatro anos atrás, quando o dólar bateu R$ 1,97 -, mas a resposta foi clara. A oferta superou o que o mercado estava disposto a aceitar, confirmando que havia um movimento especulativo em curso. Técnicos da equipe econômica consideram que o fato de o dólar estar oscilando próximo de R$ 2 não chega a preocupar, pois estaria dentro do que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vê como zona de conforto.
Por isso ainda não há medidas previstas para mudar os rumos do câmbio, além da atuação do BC. Esta tampouco visa a conter a moeda dentro de uma banda, e sim evitar fortes oscilações, explicam as fontes. A contaminação do câmbio nos preços estaria entre 3% e 8%, ou seja, o risco para a inflação não é muito grande. Este é outro fator que permite ao governo ganhar tempo antes de suspender as medidas anteriores, tomadas para evitar a queda na cotação do dólar em relação ao real.
- Não é tendência doméstica, nem problema do Brasil. É aversão ao risco. Esse é o componente mais importante - avalia o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas Gomes, que é economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio (CNC).
Alex Agostini, da Austin Rating, concorda, com uma ressalva:
- Se o país tivesse feito o dever de casa das reformas estruturais, certamente poderíamos oferecer hoje menos riscos para esses investidores.
Exportadores continuam em compasso de espera
O dólar está subindo em relação a várias moedas neste momento e, segundo levantamento feito pela Austin Rating para O GLOBO, a volatilidade não é problema exclusivo do real. Euro, rublo e rúpia, por exemplo, vêm exibindo oscilação semelhante. Isso só não acontece com o yuan porque a China controla o câmbio.
Só que as taxas dos últimos dias - o dólar bateu os R$ 2,10 - não animaram os exportadores, que defendem a desvalorização do real para ganhar competitividade no mercado externo. Isso porque, enquanto houver oscilação, não há como saber qual é o novo patamar da moeda.
Os compradores evitam fechar novos contratos neste momento. Além disso, os manufaturados é que tendem a ser os principais beneficiados por um dólar mais alto - mas 22% das exportações brasileiras destes têm como destino a Argentina, que vem restringindo os importados. Nos primeiros quatro meses deste ano, as exportações para o país vizinho caíram 11%.
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