sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Suíça abole limite cambial e franco dispara

Folha de S. Paulo - 16/01/2015

COTAÇÃO CHEGA A SALTAR 39% DURANTE O DIA; AUTORIDADE MONETÁRIA ADOTARA TETO PARA A MOEDA ANTE O EURO EM 2011
Para analistas, BC suíço previu que plano do Banco Central Europeu para injetar dinheiro no mercado começará logo
DO "FINANCIAL TIMES"

O franco suíço disparou em relação ao euro nesta quinta (15) após o banco central da Suíça surpreender os mercados e abandonar o limite adotado há mais de três anos para a cotação da moeda.

Quase imediatamente, a divisa suíça subiu 39% ante o euro e o dólar, uma das valorizações mais agudas da história recente. Durante o dia, a alta amenizou, e a valorização ficou em 15%, com o euro cotado a 1,02 franco.

A medida vem uma semana antes de o Banco Central Europeu (BCE), na expectativa do mercado, iniciar um programa de compra de títulos de dívida, o que aumentaria a demanda pelo franco.

A moeda é considerada um dos portos seguros dos mercados e a procura maior por ela dificultaria a manutenção do teto da cotação, feita via intervenções do BNS, o BC suíço, que vinham ficando mais caras, dizem analistas.

A decisão do BNS ressalta a dificuldade de economias como Reino Unido e Suíça para navegar entre o Federal Reserve (BC dos EUA), que deve elevar juros, e o BCE, que se prepara para injetar dinheiro no mercado. Representa ainda uma reviravolta para o BNS, que há um mês insistia no limite da cotação em 1,20 franco suíço por euro.

Thomas Jordan, presidente do conselho do BNS, defendeu a decisão afirmando que, tão logo ficou claro que a política era insustentável, era importante agir. "Melhor agora do que em 6 ou 12 meses."

Simon Derrick, estrategista-chefe do BNY Mellon, disse que o BNS havia antecipado uma grande entrada de capital para ativos denominados em francos suíços nos próximos dias e que "via pouca razão para oferecer aos compradores uma cotação artificialmente barata".

"O BNS ou acredita que a crise da Rússia vai se intensificar ou, mais provavelmente, que um programa de relaxamento quantitativo [compra de títulos da dívida dos países] do BCE é iminente."

A decisão do banco central foi recebida com decepção pelos exportadores suíços, pois um franco suíço mais forte tornará os produtos do país mais caros no exterior.

BOLSA CAI 10%

O principal índice de ações da Suíça, o SMI, caiu 10%. As ações de bancos locais também se desvalorizaram: tanto os papéis do UBS como do Credit Suisse recuaram 11%.

O BNS anunciou ainda que reduziria suas taxas de juros referenciais para - 0,75% (valor negativo), mas isso não conteve a disparada do franco (juros menores costumam tornar aplicações na moeda do país menos atraentes).

O breve comunicado do banco central diz que a cotação-limite, introduzida durante os desdobramentos da crise financeira de 2008, havia protegido o franco suíço no pico de volatilidade do mercado europeu. Mas nos últimos meses as políticas monetárias das economias desenvolvidas divergiram significativamente, derrubando o euro diante do dólar e enfraquecendo o franco suíço.

As reservas cambiais suíças saltaram de 257 bilhões de francos suíços em 2011, quando surgiu o limite, para 494 bilhões --quase 80% do PIB do país-- em dezembro.

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