quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

China rouba o mercado do Brasil na América do Sul

Brasil Econômico - 29/01/2015

Participação das exportações chinesas na região passou de 6%, em 2003, para 18% em 2013. Já a do Brasil, caiu de 14% para 11%
Patrícia Büll

Apesar da desaceleração de seu crescimento, a China continua exportando muito e vem ampliando sua participação no mercado internacional às custas da queda da participação de seus concorrentes nos mercados mundiais. E o Brasil não está imune a esse movimento. Entre os países da América do Sul - sem contar Venezuela e Uruguai - a participação da China nas importações da região triplicou em pouco mais de dez anos: passou de 6% (média 2002/2003) para 18% em 2013, ao passo que a do Brasil caiu de 14% para 11% no mesmo período. Os dados são da nova edição da revista "Conjuntura Econômica" do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).

Segundo a professora Lia Baker Valls Pereira, autora do artigo, a participação da China nas perdas enfrentadas pelo Brasil na região aumentou especialmente em setores de alta tecnologia. Isso sugere que o país permanece competitivo em produtos primários, mas perde muito quando o assunto são os manufaturados. "A escalada da China para produtos de maior conteúdo tecnológico tende a dificultar a diversificação da pauta brasileira em direção a setores de maior valor adicionado na região", aponta a professora.

De acordo com o especialista em comércio exterior José Roberto Cunha, do Programa de Comércio Exterior Brasileiro da Fundação Instituto de Administração (Proceb/FIA), teoricamente o Brasil teria mais vantagem em relação à China para vender manufaturados na América Latina, tanto pelos acordos comerciais que possui, quanto pela proximidade geográfica e cultural.

"Ocorre que o comércio internacional não possui mais fronteiras e os empreendedores conseguem fazer praticamente tudo online: falar com fornecedores, negociar pagamentos e facilitar a ida de possíveis parceiros a feiras na Ásia para apresentar produtos. Esses fatores, aliados ao custo de produção e ao preço final da mercadoria chinesa, mantém os asiáticos mais competitivos", diz Cunha.

O resultado é que da perda calculada de 22% de participação das exportações brasileiras para os países da América do Sul entre 2008 e 2013, 34% estariam ligados diretamente ao aumento da participação da China na região. Chama atenção, inclusive, o crescimento da presença chinesa na Argentina, principal parceiro do Brasil na região: passou de 6% em 2003 para 18% em 2013.

Para o advogado Eduardo Ribeiro Augusto, sócio do setor de Propriedade Intelectual da Siqueira Castro Advogados, cada vez mais esse ganho de mercado da China deixa de ser por preço e passa pela qualidade. Segundo Augusto, em 2012, o escritório de propriedade intelectual da China - semelhante ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) foi o que mais recebeu pedidos de patentes no mundo: 652 mil pedidos, 24% mais do que em 2011. Já o Brasil, que ocupa o 10° lugar no ranking, recebeu 30 mil pedidos.

"Esses números dão uma outra dimensão do motivo de a China ganhar cada vez mais espaço no comércio mundial. A inovação é um grande atalho para conseguir novos mercados. Quanto mais se ino- va, mais facilidade se tem de encontrar e conseguir novos mercados", afirma o advogado.

Como se preparar para enfrentar o gigante chinês

Para a professora Lia Baker, enfrentar essa concorrência chinesa - que abarca desde produtos tradicionais de baixo conteúdo tecno -lógico até os de maior sofisticação tecnológica, passa pelo aumento da produtividade dos produtos industriais brasileiros, melhora na infraestrutura que reduza os custos de logística e investimentos em tecnologia. "Em suma, a agenda de competitividade das exportações", sintetiza.

O professor José Roberto Cunha complementa que é preciso um novo modelo de desenvolvimento e de internacionalização que coloque o Brasil em patamares semelhantes dos asiáticos, como China, mas também a Coreia e o Japão.

"Mas o país pensa muito no curto prazo. E isso não é prerrogativa dos governos, passa pelos empresários e até pelos estudantes nas universidades. Precisamos mudar essa visão imediatista. Claro que é importante pensar na redução do déficit público e no controle da inflação. Mas, paralelamente, é preciso se dedicar a tornar o país mais competitivo. E isso não se muda em dois anos", conclui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário!

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.