Moeda americana a R$ 2,60 aumenta ganho em 3,1%. Com cotação a R$ 2,80, margem sobe 11%
Marta Watanabe - De São Paulo
A perspectiva de manutenção da tendência de desvalorização do real deve elevar a rentabilidade dos exportadores em 2015. Um dólar médio de R$ 2,60 no primeiro semestre deste ano elevaria a margem de ganho do exportador em 3,1%, levando em conta o acumulado de janeiro a junho de 2015 contra igual período de 2014. Se a média da cotação do dólar no primeiro semestre chegar a R$ 2,80, a rentabilidade sobe em 11,3%. Com a moeda americana a R$ 2,90, a alta da lucratividade vai a 12,7%.
O boletim Focus divulgado pelo Banco Central, que reflete as estimativas do mercado, projeta dólar a R$ 2,70 ao fim do primeiro semestre e a R$ 2,80 ao fim do ano.
As projeções de rentabilidade foram feitas a pedido do Valor pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). As estimativas, lembra a economista Daiane Santos, da Funcex, levam em consideração que os preços de exportação devem continuar pressionados pela redução do valor comercial das commodities. Ao mesmo tempo o dólar mais forte pode começar a propiciar a queda de preços de manufaturados. A avaliação é de que a queda de preço do total da exportação seja de 4,2% no primeiro semestre deste ano contra igual período do ano passado.
Além da manutenção da desvalorização, as estimativas da Funcex também levam em consideração que a desaceleração do aumento do custo de produção deve contribuir para uma rentabilidade maior do exportador.
No primeiro semestre de 2014, a rentabilidade das exportações brasileiras cresceu 1% na comparação com iguais meses do ano anterior.
A desvalorização nominal de 13% da taxa de câmbio no período foi neutralizada em boa parte pela queda de 4,5% no preço de exportação e uma elevação de custo de produção de 6,9%. Para o primeiro semestre de 2015, a Funcex projeta elevações menores no custo de produção. Para o dólar a R$ 2,60, esse custo deve ter alta de 5,5% de janeiro a junho deste ano, contra iguais meses de 2014. Se a moeda americana chegar a R$ 2,80, o custo deve subir 5,7%. Para um dólar a R$ 2,90, o custo pesará 6% mais.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que um dos efeitos da depreciação cambial é tornar o insumo importado mais caro, o que pressiona o custo de produção. Ao mesmo tempo, pode estimular a indústria a adquirir o insumo no mercado nacional, o que reduz o impacto da desvalorização do real nesse custo.
A substituição de insumos importados por nacionais, porém, nem sempre é possível.
Daiane lembra que a perspectiva de elevação na taxa de desemprego neste ano também deve contribuir para desaceleração na alta do custo de produção. A queda na demanda do mercado doméstico e o baixo crescimento devem resultar em desaceleração do processo de formalização do trabalho e menor pressão sobre salários, acredita. Para a economista da Funcex, a elevação da rentabilidade do exportador, associada ao aumento da produção de petróleo e à perspectiva de exportação de plataformas em 2015, deve contribuir para o início de recuperação dos embarques este ano.
Castro tem avaliação semelhante.
"Uma taxa de câmbio a partir de R$ 2,60 torna o produto brasileiro mais competitivo, sem dúvida." A questão, diz, é saber como esse ganho de competitividade pode fazer as exportações crescerem.
O efeito de maior competitividade deve acontecer nos manufaturados, explica Castro, cujos preços podem ser negociados a partir de um patamar de dólar mais favorável às exportações. E a recuperação dos embarques brasileiros, diz ele, depende dos manufaturados, já que os preços dos produtos mais básicos devem demorar a se recuperar.
"Se mantidas todas essas condições projetadas, haverá um crescimento da exportação de manufaturados, mas será o início de uma recuperação. O resultado será gradual", diz o presidente da AEB.
Mas há, considera Castro, possibilidade de começar a reverter a perda de espaço dos manufaturados nos últimos anos. Em 2000, os manufaturados representavam 59,07% da exportação total brasileira, maior fatia desse tipo de bem desde 1994. Essa participação sofreu queda no decorrer dos últimos 15 anos. Em 2013 a fatia já havia recuado para 38,44%. Em 2014, a participação de janeiro a novembro foi de 35,32%.
A ajuda do dólar para a exportação das indústrias, diz, vai variar de acordo com o setor e com a empresa, diz o executivo da AEB. "Setores que tendem a ser mais rapidamente beneficiados são os de mão de obra intensiva, como calçados, confecções e móveis", diz. Esses segmentos também têm a vantagem adicional de trabalhar com o que está na moda, o que faz os contratos serem de prazo menor, na comparação com os demais segmentos.
"É preciso pensar que em alguns setores os prazos são de um ano, até dois ou três anos, o que torna ainda mais gradual a recuperação porque é preciso aguardar a renovação dos contratos atuais." Para Castro, a partir de uma taxa de câmbio mais favorável, os exportadores precisarão ir em busca de novos mercados, já que destinos tradicionais como Argentina e outros países latino-americanos devem ter demanda reduzida. "A Argentina, pela crise interna. Os demais países da região, assim como os do continente africano, por conta do efeito da redução de divisas, já que são todos exportadores de commodities e manterão preços reprimidos este ano." Para Castro, um mercado em potencial é o norte-americano, que sinaliza prosseguir em crescimento, mesmo lento. Em 2002, diz ele, os americanos respondiam por 25% da exportação brasileira.
Hoje essa fatia, lembra, é de 10%. A diferença sinaliza que há um espaço, mas trata-se de um mercado a ser reconquistado e quase sempre por novos exportadores. "Quem exportava antes saiu do mercado e é preciso convencer o importador do outro lado de que a exportação brasileira vai continuar." Castro lembra que a tendência é que, com dólar mais forte e mercado doméstico desaquecido, as indústrias olhem para o comércio exterior como forma para tentar manter a receita em reais. "Na busca de novos mercados, porém, o importador precisa ser convencido de que o exportador se manterá no mercado mesmo se a demanda interna voltar a se aquecer." Para convencer o importador disso, diz Castro, o exportador também precisa estar seguro de que as condições para embarque permanecerão favoráveis.
Para Castro, além de câmbio, o governo precisa sinalizar apoio amplo ao comércio exterior. Entre eles, a regulamentação do Reintegra, o benefício restabelecido em 2014, que concede ao exportador crédito tributário de até 3% do valor embarcado. Outra, diz, é uma aproximação com destinos externos importantes, como Estados Unidos e União Europeia.
"O governo poderia organizar uma missão comercial para os Estados Unidos, por exemplo."
O boletim Focus divulgado pelo Banco Central, que reflete as estimativas do mercado, projeta dólar a R$ 2,70 ao fim do primeiro semestre e a R$ 2,80 ao fim do ano.
As projeções de rentabilidade foram feitas a pedido do Valor pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). As estimativas, lembra a economista Daiane Santos, da Funcex, levam em consideração que os preços de exportação devem continuar pressionados pela redução do valor comercial das commodities. Ao mesmo tempo o dólar mais forte pode começar a propiciar a queda de preços de manufaturados. A avaliação é de que a queda de preço do total da exportação seja de 4,2% no primeiro semestre deste ano contra igual período do ano passado.
Além da manutenção da desvalorização, as estimativas da Funcex também levam em consideração que a desaceleração do aumento do custo de produção deve contribuir para uma rentabilidade maior do exportador.
No primeiro semestre de 2014, a rentabilidade das exportações brasileiras cresceu 1% na comparação com iguais meses do ano anterior.
A desvalorização nominal de 13% da taxa de câmbio no período foi neutralizada em boa parte pela queda de 4,5% no preço de exportação e uma elevação de custo de produção de 6,9%. Para o primeiro semestre de 2015, a Funcex projeta elevações menores no custo de produção. Para o dólar a R$ 2,60, esse custo deve ter alta de 5,5% de janeiro a junho deste ano, contra iguais meses de 2014. Se a moeda americana chegar a R$ 2,80, o custo deve subir 5,7%. Para um dólar a R$ 2,90, o custo pesará 6% mais.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que um dos efeitos da depreciação cambial é tornar o insumo importado mais caro, o que pressiona o custo de produção. Ao mesmo tempo, pode estimular a indústria a adquirir o insumo no mercado nacional, o que reduz o impacto da desvalorização do real nesse custo.
A substituição de insumos importados por nacionais, porém, nem sempre é possível.
Daiane lembra que a perspectiva de elevação na taxa de desemprego neste ano também deve contribuir para desaceleração na alta do custo de produção. A queda na demanda do mercado doméstico e o baixo crescimento devem resultar em desaceleração do processo de formalização do trabalho e menor pressão sobre salários, acredita. Para a economista da Funcex, a elevação da rentabilidade do exportador, associada ao aumento da produção de petróleo e à perspectiva de exportação de plataformas em 2015, deve contribuir para o início de recuperação dos embarques este ano.
Castro tem avaliação semelhante.
"Uma taxa de câmbio a partir de R$ 2,60 torna o produto brasileiro mais competitivo, sem dúvida." A questão, diz, é saber como esse ganho de competitividade pode fazer as exportações crescerem.
O efeito de maior competitividade deve acontecer nos manufaturados, explica Castro, cujos preços podem ser negociados a partir de um patamar de dólar mais favorável às exportações. E a recuperação dos embarques brasileiros, diz ele, depende dos manufaturados, já que os preços dos produtos mais básicos devem demorar a se recuperar.
"Se mantidas todas essas condições projetadas, haverá um crescimento da exportação de manufaturados, mas será o início de uma recuperação. O resultado será gradual", diz o presidente da AEB.
Mas há, considera Castro, possibilidade de começar a reverter a perda de espaço dos manufaturados nos últimos anos. Em 2000, os manufaturados representavam 59,07% da exportação total brasileira, maior fatia desse tipo de bem desde 1994. Essa participação sofreu queda no decorrer dos últimos 15 anos. Em 2013 a fatia já havia recuado para 38,44%. Em 2014, a participação de janeiro a novembro foi de 35,32%.
A ajuda do dólar para a exportação das indústrias, diz, vai variar de acordo com o setor e com a empresa, diz o executivo da AEB. "Setores que tendem a ser mais rapidamente beneficiados são os de mão de obra intensiva, como calçados, confecções e móveis", diz. Esses segmentos também têm a vantagem adicional de trabalhar com o que está na moda, o que faz os contratos serem de prazo menor, na comparação com os demais segmentos.
"É preciso pensar que em alguns setores os prazos são de um ano, até dois ou três anos, o que torna ainda mais gradual a recuperação porque é preciso aguardar a renovação dos contratos atuais." Para Castro, a partir de uma taxa de câmbio mais favorável, os exportadores precisarão ir em busca de novos mercados, já que destinos tradicionais como Argentina e outros países latino-americanos devem ter demanda reduzida. "A Argentina, pela crise interna. Os demais países da região, assim como os do continente africano, por conta do efeito da redução de divisas, já que são todos exportadores de commodities e manterão preços reprimidos este ano." Para Castro, um mercado em potencial é o norte-americano, que sinaliza prosseguir em crescimento, mesmo lento. Em 2002, diz ele, os americanos respondiam por 25% da exportação brasileira.
Hoje essa fatia, lembra, é de 10%. A diferença sinaliza que há um espaço, mas trata-se de um mercado a ser reconquistado e quase sempre por novos exportadores. "Quem exportava antes saiu do mercado e é preciso convencer o importador do outro lado de que a exportação brasileira vai continuar." Castro lembra que a tendência é que, com dólar mais forte e mercado doméstico desaquecido, as indústrias olhem para o comércio exterior como forma para tentar manter a receita em reais. "Na busca de novos mercados, porém, o importador precisa ser convencido de que o exportador se manterá no mercado mesmo se a demanda interna voltar a se aquecer." Para convencer o importador disso, diz Castro, o exportador também precisa estar seguro de que as condições para embarque permanecerão favoráveis.
Para Castro, além de câmbio, o governo precisa sinalizar apoio amplo ao comércio exterior. Entre eles, a regulamentação do Reintegra, o benefício restabelecido em 2014, que concede ao exportador crédito tributário de até 3% do valor embarcado. Outra, diz, é uma aproximação com destinos externos importantes, como Estados Unidos e União Europeia.
"O governo poderia organizar uma missão comercial para os Estados Unidos, por exemplo."
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