Thiago Resende
Impulsionadas pelo câmbio mais favorável, pelas desonerações tributárias e pela própria crise interna no país mais empresas brasileiras conseguiram vender ao exterior no ano passado. O número de companhias que fizeram essas transações cresceu 2,7% frente a 2013, passando de 18,8 mil para 19,2 mil no período, enquanto o valor total das exportações recuou de US$ 242 bilhões para US$ 225,1 bilhões na mesma comparação.
Os dados em sentidos opostos são explicados, principalmente, pela maior atuação de pequenos e médios empresários no comércio exterior do país. Cerca de 80% das companhias que entraram nesta lista de exportadores entre 2013 e o ano passado venderam até US$ 10 mil - resultado puxado especialmente pelos embarques que não chegaram a mil dólares. Foi o segundo ano consecutivo com alta nesse catálogo após seguidas baixas.
Essas companhias são, principalmente, dos setores de móveis; máquinas e equipamentos e partes; algodão; pedras e metais preciosos; açúcar e produtos de confeitaria; cereais; café, chá e especiarias, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), enviados ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Especialistas concordam que esse descompasso entre o valor total exportado e o número de empresas que venderam ao exterior foi influenciado por um ambiente de mercado interno desaquecido em conjunto com a desvalorização do real frente ao dólar, que tornou os produtos nacionais mais competitivos apesar da perda de ritmo da atividade econômica mundial. Outro fator são as medidas para reduzir o custo das mercadorias e de exportação, inclusive o Reintegra - programa que devolve parte dos impostos pagos na cadeia produtiva aos exportadores de bens industrializados.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressaltou que a possibilidade de exportar via Correios, com custos mais reduzidos e menor burocracia, pode ter estimulado os pequenos exportadores diante da redução dos consumos das famílias no Brasil. Esse serviço impõe limitações de tamanho e peso das mercadorias, mas não traz problemas para setores como de pedras preciosas, especiarias e até móveis, que estão entre os segmentos elencados pelo Mdic.
No entanto, para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o quadro de exportadores brasileiros ainda segue bastante concentrado em poucas empresas. "Ainda não houve uma desconcentração, porque o peso das commodities continua muito grande apesar da recente queda nos preços desses produtos", disse Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da entidade.
Na avaliação de Castro, da AEB, "o importante é que houve uma mudança de cenário. Ainda que leve, mas houve uma mudança. Em 2015, o câmbio e o aquecimento da economia dos Estados Unidos devem ajudar a manter a tendência de crescimento de exportadores". A crise argentina e a queda nas exportações de países da América do Sul - provocada pela redução de preço de commodities - darão aos Estados Unidos posição fundamental no comércio exterior do Brasil este ano. Além disso, ele ressaltou que o real mais desvalorizado deve injetar estímulo mais imediato às vendas de calçados, confecções e móveis ao exterior.
As medidas a serem anunciadas pelo governo, mesmo que de pouco impacto fiscal, devem manter a tendência de alta na quantidade de empresas exportadoras este ano, de acordo com alguns analistas. Uma das ideias é simplificar os procedimentos aduaneiros - ações com impacto maior nas empresas de pequeno porte, pois são as que mais sofrem com o peso da burocratização. Conforme promessa do novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, nos próximos dias será lançado o Plano Nacional de Exportações para incentivar as transações e aumentar a competitividade do setor manufatureiro. "Não há política industrial sem uma política ativa de comércio exterior. São duas faces da mesma moeda", afirmou Monteiro, na semana passada.
O desafio do governo, agora, é estimular as pequenas e médias companhias a continuarem atuando no mercado internacional mesmo depois que a atividade econômica do Brasil voltar a ser mais pujante, disseram, em sintonia, Soraya, Castro e também Evaldo Alves, professor de economia internacional da FGV. "As empresas de menor porte são muito voláteis nessa questão. Assim que a economia voltar a crescer, elas devem diminuir as exportações. Elas se sentem mais confortáveis atuando no mercado interno, mas isso é um mito. Em países como Alemanha, pequenas e médias companhias têm um grande peso nas vendas ao exterior", destacou Alves.
A CNI chama atenção ainda para a possibilidade de o retorno desses empresários novamente apenas para a demanda interna poder criar problemas para a imagem do país no comércio internacional. "Não há um planejamento. Compradores estrangeiros podem buscar produtos brasileiros novamente e não serem atendidos", apontou Soraya.
"Essas companhias não têm aquela cultura exportadora. Estão, na verdade, aproveitando o momento, pois ainda consideram mais fácil atuar no mercado interno do que no externo. Por serem menores, geralmente apresentam custos mais elevados. Sendo assim, um câmbio mais favorável é muito importante para incentivar e dar melhores condições para vender lá fora", concluiu Castro.
Os dados em sentidos opostos são explicados, principalmente, pela maior atuação de pequenos e médios empresários no comércio exterior do país. Cerca de 80% das companhias que entraram nesta lista de exportadores entre 2013 e o ano passado venderam até US$ 10 mil - resultado puxado especialmente pelos embarques que não chegaram a mil dólares. Foi o segundo ano consecutivo com alta nesse catálogo após seguidas baixas.
Essas companhias são, principalmente, dos setores de móveis; máquinas e equipamentos e partes; algodão; pedras e metais preciosos; açúcar e produtos de confeitaria; cereais; café, chá e especiarias, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), enviados ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Especialistas concordam que esse descompasso entre o valor total exportado e o número de empresas que venderam ao exterior foi influenciado por um ambiente de mercado interno desaquecido em conjunto com a desvalorização do real frente ao dólar, que tornou os produtos nacionais mais competitivos apesar da perda de ritmo da atividade econômica mundial. Outro fator são as medidas para reduzir o custo das mercadorias e de exportação, inclusive o Reintegra - programa que devolve parte dos impostos pagos na cadeia produtiva aos exportadores de bens industrializados.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressaltou que a possibilidade de exportar via Correios, com custos mais reduzidos e menor burocracia, pode ter estimulado os pequenos exportadores diante da redução dos consumos das famílias no Brasil. Esse serviço impõe limitações de tamanho e peso das mercadorias, mas não traz problemas para setores como de pedras preciosas, especiarias e até móveis, que estão entre os segmentos elencados pelo Mdic.
No entanto, para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o quadro de exportadores brasileiros ainda segue bastante concentrado em poucas empresas. "Ainda não houve uma desconcentração, porque o peso das commodities continua muito grande apesar da recente queda nos preços desses produtos", disse Soraya Rosar, gerente-executiva de negociações internacionais da entidade.
Na avaliação de Castro, da AEB, "o importante é que houve uma mudança de cenário. Ainda que leve, mas houve uma mudança. Em 2015, o câmbio e o aquecimento da economia dos Estados Unidos devem ajudar a manter a tendência de crescimento de exportadores". A crise argentina e a queda nas exportações de países da América do Sul - provocada pela redução de preço de commodities - darão aos Estados Unidos posição fundamental no comércio exterior do Brasil este ano. Além disso, ele ressaltou que o real mais desvalorizado deve injetar estímulo mais imediato às vendas de calçados, confecções e móveis ao exterior.
As medidas a serem anunciadas pelo governo, mesmo que de pouco impacto fiscal, devem manter a tendência de alta na quantidade de empresas exportadoras este ano, de acordo com alguns analistas. Uma das ideias é simplificar os procedimentos aduaneiros - ações com impacto maior nas empresas de pequeno porte, pois são as que mais sofrem com o peso da burocratização. Conforme promessa do novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, nos próximos dias será lançado o Plano Nacional de Exportações para incentivar as transações e aumentar a competitividade do setor manufatureiro. "Não há política industrial sem uma política ativa de comércio exterior. São duas faces da mesma moeda", afirmou Monteiro, na semana passada.
O desafio do governo, agora, é estimular as pequenas e médias companhias a continuarem atuando no mercado internacional mesmo depois que a atividade econômica do Brasil voltar a ser mais pujante, disseram, em sintonia, Soraya, Castro e também Evaldo Alves, professor de economia internacional da FGV. "As empresas de menor porte são muito voláteis nessa questão. Assim que a economia voltar a crescer, elas devem diminuir as exportações. Elas se sentem mais confortáveis atuando no mercado interno, mas isso é um mito. Em países como Alemanha, pequenas e médias companhias têm um grande peso nas vendas ao exterior", destacou Alves.
A CNI chama atenção ainda para a possibilidade de o retorno desses empresários novamente apenas para a demanda interna poder criar problemas para a imagem do país no comércio internacional. "Não há um planejamento. Compradores estrangeiros podem buscar produtos brasileiros novamente e não serem atendidos", apontou Soraya.
"Essas companhias não têm aquela cultura exportadora. Estão, na verdade, aproveitando o momento, pois ainda consideram mais fácil atuar no mercado interno do que no externo. Por serem menores, geralmente apresentam custos mais elevados. Sendo assim, um câmbio mais favorável é muito importante para incentivar e dar melhores condições para vender lá fora", concluiu Castro.
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