O Banco Central da Argentina suspendeu a liberação de dólares para importação de grandes empresas nos dois últimos dias.
Fontes da instituição confirmaram que a medida foi tomada como forma de administrar a insuficiência de oferta. A situação tende a travar ainda mais as exportações do Brasil para o país vizinho.
Um diretor de uma grande empresa, ouvido pelo Valor, diz que as compras do Brasil acabarão sendo reduzidas para evitar um excesso de endividamento com o fornecedor brasileiro.
Desde que a Argentina entrou em “default” aumentaram as dificuldades para liberação de dólares para importação. Segundo o dirigente da área de comércio exterior de um grupo industrial, a empresa não conseguiu liberar um único dólar nesta semana. “O Fábrega (Juan Carlos Fábrega, presidente do Banco Central da Argentina) nem atende mais o telefone”, diz.
Segundo uma fonte do Banco Central, algumas operações de grandes companhias foram postergadas ou divididas em duas etapas em razão da insuficiência na oferta.
A decisão não atingiria, no entanto, as pequenas e médias empresas. Esse segmento foi preservado para evitar que a falta de insumos estrangeiros interrompa a produção local.
A incapacidade de contar com a moeda estrangeira para honrar os compromissos com fornecedores estrangeiros reduz a competitividade do setor industrial.
O receio, dizem os executivos, é que muitos produtos importados já foram vendidos no mercado interno com base numa cotação que poderá mudar quando a empresa conseguir a liberação de dólares para pagar ao fornecedor.
Quem está nessa situação perde a cada dia que passa, porque o peso tem sido desvalorizado gradualmente. Nos últimos 30 dias, o dólar oficial aumentou de 8,16 para 8,28 pesos na venda. Isso significa que em um mês a moeda local perdeu valor em 1,47%.
O quadro poderá complicar-se à medida que as empresas trabalhem com o receio de uma nova desvalorização cambial mais forte, como a que ocorreu em janeiro. Esse temor poderá levar alguns setores a reduzir as compras no exterior.
“Vendemos um produto hoje com a cotação a 8,28 pesos. Mas o dólar pode estar em 9 ou mais quando conseguirmos a liberação no Banco Central”, afirma um executivo que não quer ser identificado.
O perfil das importações também tende a mudar para itens de menor volume agregado. Há empresas que importam tanto produtos prontos como insumos para a fabricação local.
É o caso de setores como a indústria farmacêutica, cosmética e automotiva. Com a limitação na liberação de dólares, será natural muitos passarem a dar prioridade aos insumos e não aos produtos acabados e, assim, evitar que as linhas de produção argentinas sejam prejudicadas.
No caso da indústria automobilística, por exemplo, a Argentina hoje compra veículos e peças, principalmente do Brasil.
Diante da dificuldade na obtenção de dólares, haverá uma tendência natural das empresas que têm fábricas nos dois lados da fronteira a preferir comprar os componentes e adiar a importação dos automóveis para quando a situação cambial se normalizar.
A situação pode dificultar os planos da presidente Cristina Kirchner para elevar as vendas de ônibus. Ela anunciou ontem, em rede nacional, um programa de financiamento para veículos coletivos com o intuito de renovar a frota e estimular a indústria local de carrocerias. Mas, como o Brasil concentra a produção de chassi na América Latina, a presidente pode não ter levado em conta as dificuldades que as empresas terão para a importação da parte mais importante de um ônibus.
Fonte: Valor Econômico, Por Marli Olmos
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