Autor(es): Antonio Delfim Netto
FOLHA DE SP - 15/01/2014
Se tomarmos o septênio 2007-13, em que se iniciou a grande recessão mundial, as performances das economias brasileira e mexicana diferem, mas não se pode afirmar qual é a melhor: 1) crescimento anual do PIB: Brasil 3,5% e México 2,0%; 2) inflação anual: Brasil 5,3% e México 4,3% e 3) deficit em conta-corrente: Brasil 2% e México 1%.
A situação é mais perturbadora quando olhamos as "expectativas" dos agentes econômicos no curto prazo (2014-15). Esperam um aumento médio do PIB no Brasil de 2% ao ano (estável) e de 3,6% no México (crescendo) e uma taxa de inflação média no Brasil de 5,5% e de pouco mais de 3,5% no México. Mais do que isso: a agência de rating Standard & Poor's promoveu o México em dezembro e agora sugere que poderá rebaixar o Brasil.
De onde vem tanta incerteza e pessimismo? Talvez do lado político. O México elegeu em julho de 2012 o presidente Enrique Peña Nieto, que deixou claro a que veio. Elegeremos nosso presidente em outubro de 2014. Hoje o mais provável vencedor é Dilma Rousseff. O problema é que o governo enfrenta sérias desconfianças do setor empresarial, que não se sente confortável com o excessivo ativismo gerencial manifestado até aqui. Ninguém sabe se um segundo mandato será uma aposta dobrada no que não funcionou satisfatoriamente, ou se haverá uma correção de rumo.
No México, depois de 70 anos da chamada "ditadura perfeita" do Partido Revolucionário Institucional (PRI), dez anos de democracia foram insuficientes para corrigir seus erros. O PRI voltou ao poder em 2012 pelas mãos de Peña Nieto. No dia da posse ele assinou, junto com seus principais adversários, o "Pacto do México", para aprovar no Congresso uma revolução econômica e social nas telecomunicações, na educação, energia e finanças, cuja essência é dar maior liberdade à iniciativa privada, insistir na necessidade de competição e reduzir o poder dos oligopólios construídos legalmente ao longo dos intermináveis 70 anos.
O programa tem sido muito bem-sucedido: o Congresso quebrou a castanha do retrógrado sindicato dos professores, ampliou a concorrência nas telecomunicações e estabeleceu a competição no setor de energia.
Há uma lição na experiência mexicana que deveríamos introjetar: todo oligopólio legalmente protegido, como é o nosso setor de comunicações, torna-se preguiçoso no desenvolvimento tecnológico e contenta-se em explorar o consumidor indefeso. Forçar, por exemplo, como sugerem os interessados, a venda da TIM para os atuais operadores (com mais dinheiro do governo) seria um erro trágico, pelo qual pagaríamos em alguns anos. Como se viu no México, as consequências vêm sempre depois...
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