FOLHA DE SÃO PAULO - 28/01/2014
Enquanto o Irã ensaia uma reaproximação com potências ocidentais, seus laços com o Brasil definham. Em meio a entraves e desinteresse mútuo, os dois países distanciam-se cada vez mais da empatia da era Lula.
Brasileiros estão fora do fluxo de delegações estrangeiras que vêm lotando hotéis de Teerã de olho na reabertura do mercado iraniano, esperada com o alívio das sanções impostas ao país em represália a seu programa nuclear.
O comércio bilateral, dominado por exportações brasileiras, despencou 26% no último ano, acirrando a queda verificada no ano anterior. O número supera com folga os 10% de diminuição geral dos negócios externos do Irã.
Exportadores brasileiros culpam dificuldades para receber pagamentos após novas sanções bancárias ao Irã nos últimos dois anos.
"Não dá para comparar a situação antes e depois das sanções", diz Antonio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Ele aposta no alívio do cerco e prevê retomada em 2014.
Editoria de Arte/Folhapress |
Outra fonte empresarial do Brasil atribui a queda das exportações ao empobrecimento do Irã devido às punições: "Tem muita gente quebrada".
Há ainda um esforço do Irã para diversificar fornecedores, o que prejudica o Brasil.
O afastamento entre Brasília e Teerã começou com o fim do governo Lula, mas parece acentuar-se desde que Hasan Rowhani assumiu a Presidência iraniana, em agosto, com a promessa de restaurar laços com potências ocidentais.
As negociações nucleares já resultaram num acordo preliminar pelo qual o Irã freia o programa atômico em troca de alívio gradual das sanções.
investimentos
Agora, o Irã está sedento por investimentos para retomar exportações de petróleo em larga escala. Já os ocidentais, europeus na frente, buscam voltar ao país de 77 milhões de habitantes e com vastos recursos naturais.
O governo francês deu sinal verde a uma missão de prospecção que levará 100 empresas ao Irã nos próximos dias. Ministros italianos e parlamentares britânicos estiveram recentemente em Teerã.
Comitivas da Suécia e Polônia chegarão em breve, e até uma delegação de empresários dos EUA deve viajar nos próximos meses.
O consultor Cyrus Razzaghi, da AraEntreprise, avalia que o Brasil poderia aproveitar oportunidades caso Dilma mantivesse interesse pelo Irã.
"Laços foram estabelecidos na era Lula. É uma pena não cultivá-los, pois existe potencial em agricultura, aviação e energias renováveis", diz.
O desinteresse de Dilma é atribuído, em parte, à estratégia de evitar temas muito distantes ou espinhosos. Em 2010, Lula entrou em atrito com potências ocidentais após a rejeição de um plano brasileiro-turco sobre o programa nuclear iraniano.
Mas, em meio ao marasmo bilateral, dois canais parecem abrir-se. A Petrobras esteve entre as gigantes petroleiras com quem Rowhani conversou na semana passada em Davos, na Suíça. A estatal atuou no Irã até 2009, quando saiu para evitar retaliações.
Na frente política, uma delegação parlamentar deve ir a Teerã em fevereiro.
Mas diplomatas e analistas avaliam que Rowhani também não considera o Brasil prioridade.
"A diplomacia atual só tem duas direções: laços com as potências e com os vizinhos. O resto está sem rumo", diz um analista ligado ao governo iraniano.
Há três semanas, um alto diplomata iraniano não passou pelo Brasil durante tour pela América Latina que incluiu Bolívia, Cuba e Venezuela.
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