28/01/2014 às 09h08 | Postado por: Angela Bittencourt Seção:Banco Central, BM&FBovespa, Câmbio, Indicadores, Inflação,Juro, Política cambial, Reservas internacionais
Os investidores estrangeiros têm quase US$ 30 bilhões em ativos cambiais no Brasil. Essa aposta inédita na valorização do dólar na comparação com o real – feita na BM&FBovespa em contratos de dólar futuro e cupom cambial – recomenda cautela ao mercado financeiro particularmente nesta semana que já registra inesperada mobilização de bancos centrais.
O dólar frente ao real abriu a semana em alta de mais de 1% e está em nível crítico, acima de R$ 2,42, embora venha exibindo comportamento melhor que o de outras moedas emergentes. O desempenho razoável da taxa de câmbio deve muito à pesada intervenção do Banco Central do Brasil neste mercado, há meses. E não poderia ser diferente ante a muralha de quase US$ 80 bilhões em contratos de swap cambial erguida pelo BC, vital para a manutenção de algum controle sobre a desvalorização do câmbio. Para se ter uma ideia do poder de fogo da autoridade monetária no esforço de evitar variações tresloucadas dessa taxa, as intervenções cambiais têm grandeza similar ao déficit em transações correntes do balanço de pagamentos. No ano passado, quando superou em 25% as projeções iniciais do BC, esse déficit cravou US$ 81,4 bilhões – 3,66% do Produto Interno Bruto brasileiro.
Apesar de toda essa rede de proteção que significa custo adicional para o governo que assegura a variação cambial para o mercado em troca de taxa de juro, o dólar não está livre de pressão como se vê há dias, sempre tentado a replicar a inquietação da moeda no câmbio internacional. Acima de R$ 2,40, patamar atual de negociação testado há cerca de seis meses, o dólar está sempre pronto para alimentar expectativas de que o pior ainda está por vir. Mas não é bem assim. Na média, o calvário de cada economia – incluindo a nossa -- é proporcional às suas vulnerabilidades. E, nesse sentido, o Brasil não está pior que seus pares.
O Brasil tem sim elevado déficit em conta corrente, mas financiado em mais de 70% por investimento externo direto. Nossa inflação vive com sobrepeso, mas chega a estar longilínea frente ao exagero que experimentou não faz muito tempo. No ano passado, o IPCA acumulado em doze meses -- referência para o regime de metas para a inflação no país – superou 6% durante oito meses e chegou a flertar com 7%, encerrando dezembro a 5,91%. As contas públicas, num mês sim e no outro também, correm o risco de encarar uma saia justa. Mas puxa daqui, aperta dali, acabam ajeitadas num figurino que agrada ao governo e não exatamente a todos.
Até por esse motivo, nossa fama não é exatamente positiva nas agências de classificação de risco de crédito. Os investidores são informados a respeito e o país passa por testes. E essa perspectiva justifica o alerta de cautela mais rigorosa quando alguns eventos podem ter resultados além do calculado. Hoje, quem oferece risco é a Turquia, onde o Banco Central tem reunião extraordinária à noite pelo horário de Brasília e pode anunciar o aumento do juro básico e, assim, resgatar a lira turca do pântano em afunda. Nesta madrugada, o BC da Índia surpreendeu ao elevar o juro básico em 0,25 ponto, para 8%, informa o jornalista Marcílio Souza, especialista em finanças internacionais do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.
Amanhã, o Federal Reserve será o risco a ser enfrentado. É elevada a chance de o BC americano reduzir pela segunda vez em menos de sessenta dias o montante de recursos dirigidos à compra de títulos públicos e hipotecários em mercado – dando corda ao processo de normalização da política monetária dos EUA totalmente desarranjada a partir da crise financeira de 2008.
Essa mobilização de bancos centrais, somada ao ingresso ou saída de capital externo do Brasil, combinada à entrada ou saída de capital do Brasil, pode patrocinar distorções consideráveis na taxa de câmbio, ainda que não permanentes. Mas considerando o fato de janeiro terminar nesta semana, não custa preparar o espírito para oscilações mais acentuadas da taxa de câmbio, uma vez que vários atores gostariam de garantir o dólar que mais lhe convém para fechar balanços.
Um experiente tesoureiro, em conversa com o Casa das Caldeiras ontem à noite, disse não acreditar que a histórica posição comprada de investidores estrangeiros em derivativos cambiais ou o elevadíssimo estoque de contratos de swap que o BC injetou no mercado nos últimos cinco meses provoque um cabo-de-guerra entre comprados e vendidos interessados em influenciar a formação da PTAX. O nosso interlocutor, dono de uma privilegiada vista do mercado financeiro, considera que a PTAX – taxa utilizada como referência para a liquidação de derivativos cambiais na BM&F – na sua versão atual está bem mais protegida de interferências pontuais.
Fonte: Valor Econômico
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