Brasil Econômico - 13/06/2012
Volume atingiu US$ 60 bilhões no fechamento de 2011, incentivado por facilidades de captação
Marília Almeida
Instabilidade nos mercados e forte valorização cambial não têm sido argumentos suficientes para desestimular as empresas a captarem recursos em dólar. Os empréstimos em moeda estrangeira, excluindo debêntures, das 300 principais empresas de capital aberto saltaram de US$ 35,7 bilhões para US$ 60,4 bilhões em dois anos, um aumento de 71%. É o que aponta levantamento da Austin Rating para o BRASIL ECONÔMICO.
O motivo é que, apesar do risco cambial envolvido, as captações no mercado internacional estão mais favoráveis.Coma crise internacional, dinheiro abundante e a falta de bons tomadores no mercado, bancos estrangeiros oferecem melhores condições às empresas brasileiras.
Mas, em menos de quatro meses, o dólar já acumula alta de 21,60%, e se mantém nas últimas sessões acima de R$ 2, sinal preocupante para empresas que não tenham proteção contra oscilações cambiais. A Austin aponta que, caso a dívida externa das 300 empresas no fechamento de 2011 fossem atualizadas para o patamar atual do câmbio, e nenhuma fizesse operações de hedge, as perdas totais seriam da ordem de US$ 9 bilhões. No curto prazo, até o final do ano, as perdas somariam US$ 1,5 bilhão.
Porém, analistas apontam que o cenário não é preocupante, e bem diferente do verificado em 2008, quando empresas registraram perdas milionárias com operações de derivativos cambiais diante de uma alta inesperada do dólar. "As empresas aprenderam muito desde então e passaram a ter uma cultura de proteção", afirma Ricardo Torre, professor da Brazilian Business School.
Ele também cita a alta "anunciada" da moeda pelo governo, que teve como objetivo declarado de sua política monetária a desvalorização do real. "Era de comum acordo que o dólar iria subir. Tanto que os bancos passaram para a posição de "comprados" em dólar depois de muito tempo", conta. "Neste cenário, as empresas se prepararam."
As dez empresas com os maiores empréstimos em moeda estrangeira são de grande porte. Nelas, de acordo com levantamento da Austin, riscos com a alta do dólar são menores. "Empresas deste porte fazem análise de risco contra taxa de juros e moedas", aponta Eduardo Silva, sócio diretor da consultoria FBM.
A lista é encabeçada pela Petrobras (US$ 8,36 bilhões), Eletrobrás (US$ 4,99 bilhões), CSN (US$ 4,78 bilhões), Oi (US$ 4,61 bilhões), Braskem (US$ 4,3 bilhões), JBS (US$ 3,65 bilhões), Vale (US$ 2,87 bilhões), Usiminas (US$ 2,42 bilhões), Marfrig (US$ 2,04 bilhões) e Klabin (US$ 1,93 bilhões). Entre elas, metade aumentou o volume de empréstimos no exterior em 2011 em comparação com 2010. A Eletrobrás e a Klabin continuaram aumentando sua dívida na moeda no primeiro trimestre de 2012. Porém, Petrobrás, CSN, Braskem e Vale reduziram o endividamento. Analistas apontam que a preocupação é maior com empresas menores. "Elas são penalizadas porque operações de hedge são caras e falta visão estratégica", diz Torres.
A mudança do perfil da dívida nos últimos anos, para prazos mais longos, também reduzem perdas com o câmbio. "Caso não houvesse proteção alguma, apenas16% de empréstimos na moeda seriam pagos no curto prazo e sofreriam com o impacto da alta do câmbio", explica Felipe Queiroz, analista da Austin Rating.
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