sexta-feira, 8 de junho de 2012

ACC perde fôlego com banco mais seletivo

Valor Econômico - 08/06/2012
Por Eduardo Campos | De São Paulo


Depois de um recorde histórico em março, de US$ 5,86 bilhões, e mais US$ 5,62 bilhões em abril, as operações de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC, uma forma de financiamento ao exportador) caíram a US$ 4,589 bilhões em maio. Uma redução de 18%.

Mais interessante do que a queda em si é a mudança notada no comportamento dos bancos na concessão dos ACCs.

De acordo com o diretor de uma corretora, as instituições estão mais seletivas conforme cresce o número de exportadores que mostram dificuldade em performar os contratos realizados e estão pedindo prorrogação de prazo.

O exportador toma o ACC e recebe dólares de linhas externas dos bancos. A contrapartida a esse recurso "barato" é a entrega de uma operação de exportação. Essa parte da entrega é que não estaria sendo feita, seja por cancelamento das compras externas, seja por "empolgação" do tomador com o baixo custo dessa linha.

"O ACC é um dinheiro barato e todo mundo quer. Só que às vezes a venda que se presumia realizar não acontece no tempo certo", diz esse especialista.

Com a piora de humor externo, a taxa do ACC também subiu, mas nada muito diferente de 2% no caso de empresas "prime".

Mesmo com essa alta, o diretor nota que a maior seletividade dos bancos é reflexo mesmo da piora na percepção de risco interno.

"Há empresas que já têm problemas de limite para obter ACCs. Na visão dos bancos, o risco de crédito para estas operações vem sendo agravado", diz.

Mais uma indicação disso é que o Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) apresenta cotação diferente do ACC, pois a mercadoria já foi embarcada e o risco para o banco é atenuado, já que está compartilhado entre o cliente local e o comprador no exterior.

Se o exportador não consegue a prorrogação de prazo ou tem mesmo de entregar a exportação para saldar sua parte no contrato de ACC, a saída é comprar a performance de outro exportador. Ele vai até uma trading e compra o embarque de mercadoria, paga por essa performance e entrega ao banco.

De acordo com o diretor de outra corretora, é essa prática de comprar e entregar performance que estaria deixando os bancos mais seletivos.

As instituições ficam desgostosas em conceder uma linha de crédito "barata" para um cliente que não vai entregar as exportações, mas sim comprar a performance de um terceiro. Ou seja, o recurso pode não estar sendo utilizado para a finalidade acordada.

"Essa seletividade dos bancos é, na verdade, uma forma de barrar esse acesso ao crédito barato, que tira espaço de outras formas de financiamento ofertadas pelos próprios bancos", diz.

Não só os ACCs recuaram em maio. Outras formas de financiamento à exportação, como o Pagamento Antecipado (PA), também encolheram. O volume de PA cedeu 37%, para US$ 3,594 bilhões.

Com isso, o saldo da conta comercial do fluxo cambial fechou maio em US$ 3,636 bilhões, contra US$ 7,527 bilhões em abril.

Ainda assim, esse resultado positivo ajudou a amenizar o déficit da conta financeira, onde se registram investimentos em carteira, captações e outras operações desse gênero.

Em maio, a saída financeira foi de US$ 6,327 bilhões. Pior resultado desde novembro de 2008, auge da crise financeira, quando US$ 10,298 bilhões deixaram o país por essa conta.

Com isso, o fluxo cambial fechou maio negativo em US$ 2,691 bilhões, pior leitura desde junho de 2010, quando o resultado ficou negativo em US$ 4,279 bilhões.

Segundo o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, essa saída financeira traz uma mensagem forte por parte dos investidores que estão deixando o país: em tempos de crise, a segurança prevalece sobre a rentabilidade.

"Os dados mostram que o cenário para o Brasil mudou. O cenário é de "ressaca" e não de enxurrada de dólares ou tsunami monetário", diz o especialista.

De volta à quarta-feira, o câmbio local não seguiu a melhora de humor externo.

O dólar comercial subiu 0,50% no dia, para R$ 2,027 na venda.

Para um tesoureiro, o dólar só cai quando o BC vende. "O mercado continua em uma ponta só, a de compra, e vai continuar testando a disposição do BC."

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