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A queda de preços médios dos produtos exportados no primeiro bimestre do ano tirou a maior parte do ganho no volume de vendas no exterior.
A redução de preços de exportação acontece desde 2012, mas voltou a se intensificar no primeiro bimestre do ano, depois de reduzir o ritmo no ano passado.
Essa evolução, segundo especialistas, indica que a contribuição negativa dos preços para o desempenho das exportações e da balança comercial este ano pode ser maior que a esperada inicialmente.
No primeiro bimestre, o volume total embarcado pelo Brasil cresceu 6,2%. Os preços médios de exportação, porém, caíram 4,3%.
Como resultado, o valor exportado subiu apenas 1,4%. Com um mês de fevereiro com maior número de dias úteis este ano (20 em 2014 contra 18 no ano passado), a quantidade exportada no segundo mês do ano subiu 9,1% em relação a igual período de 2013. Mas com o recuo de 5,9% nos preços médios de exportação, o valor do total vendido ao exterior no mês aumentou 2,5%.
A redução de preços se intensificou em relação à queda de 4,3% no ano passado, na comparação com 2012. O ritmo de redução também é maior que os 2,3% no último trimestre de 2013, contra iguais meses do ano anterior. Os dados são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
O recuo mais forte de preços no primeiro no início do ano foi puxado pelos produtos básicos – como soja e minério de ferro – e pelos semimanufaturados, como açúcar, celulose e óleo de soja. Juntas, essas duas classes de produtos representam 58% da exportação total brasileira.
No primeiro bimestre a quantidade de produtos básicos vendida ao exterior cresceu 10,1% enquanto os preços médios caíram 5,6%.
Na mesma comparação, o volume de semimanufaturados subiu 7,1% enquanto os preços dessa mesma classe recuaram 9,0%.
“A contribuição dos preços de exportação em queda será uma das mais importantes do ano para a balança comercial. A tendência é que a queda de preços se acentue no decorrer do ano”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O boletim da Funcex destaca que no primeiro bimestre houve queda de preços de exportação e de importação. O declínio nos embarques, porém, foi mais acentuado (4,3% de recuo de preços nas exportações contra 2,6% nas importações).
As quantidades exportadas e importadas cresceram a taxas semelhantes (6,2% e 6,3%). A redução mais acentuada dos preços de exportação, portanto, diz o boletim, é que explica a deterioração do saldo comercial do bimestre, contra mesmo período de 2013.
No acumulado do ano até fevereiro, o déficit comercial chegou a US$ 6,2 bilhões. No mesmo período do ano passado o saldo negativo foi de US$ 5,3 bilhões.
Castro lembra que o recuo dos básicos é influenciado principalmente pela soja e pelo minério de ferro que, juntos, representam mais de um quinto do valor total embarcado pelo Brasil no ano passado.
Castro estima que a soja ficará com preço médio de US$ 500/tonelada neste ano, o que significa queda em relação à média de US$ 533/tonelada em 2013. Mesmo desacelerando e com o crescimento anunciado pelo governo chinês de 7,4%, diz ele, a China irá demandar o grão, mas os preços devem cair por conta do grande volume de produção previsto para este ano.
“Em razão dos baixos preços do milho, produtores agrícolas dos Estados Unidos, Argentina e Brasil apostaram mais na soja, o que trará uma superoferta do grão.”
O minério de ferro também deve sofrer queda de preço também em razão de grande oferta. “Ao contrário da soja, que é um alimento, o minério é mais vulnerável à queda no nível da atividade chinesa.
” Ele lembra que a mineradora anglo australiana Rio Tinto anunciou expansão da produção de minério de ferro em território australiano a partir deste ano, o que resultará em concorrência maior ao produto brasileiro.
“Há uma correção muito aguda dos preços do minério de ferro nos últimos dois ou três meses por conta do desempenho dos mercados internacionais e dos elevados estoques”, diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências.
A expectativa para o ano, diz ele, é de desempenho fraco de preços. As commodities metálicas, de maneira geral, estima, devem ter preços abaixo dos de 2013.
Segundo Castro, a estimativa da AEB é que o preço médio do minério de ferro fique próximo a US$ 90 a tonelada, recuo de 8,2% em relação à média de US$ 98/tonelada em 2013.
Mesmo deixando a recessão para trás, com perspectiva de crescer cerca de 1% este ano, os países da União Europeia, também consumidores de minério de ferro, não devem compensar toda a queda de demanda chinesa.
“O crescimento dos países da zona do euro, após dois anos de recessão, pode fazer com que haja melhora no volume exportado de minério, mas é a China quem define o preço”, diz Castro.
Campos Neto tem opinião parecida. “Os países da União Europeia deixaram a pior fase para trás e isso pode fazer diferença nos volumes, já que a região é grande demandante não só de básicos como de manufaturados.” Outra variável importante na quantidade de embarque de alguns semimanufaturados e manufaturados, destaca, é o câmbio. “A desvalorização do real frente ao dólar torna a exportação mais rentável e pode permitir a recuperação de volumes.”
De acordo com os dados da Funcex, o volume de exportação de manufaturados brasileiros cresceu 6,8% nos 12 meses encerrados em fevereiro, na comparação com os 12 meses anteriores.
Nesse período, os preços caíram 2,5%. No primeiro bimestre, a quantidade embarcada ficou praticamente estável, com alta de 0,1%. Os preços caíram 1%.
Fonte: Valor Econômico, Por Marta Watanabe
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