sexta-feira, 20 de abril de 2012

Preço de venda externa sobe menos que de importação


Autor(es): Por Sergio Lamucci | De São Paulo
Valor Econômico - 20/04/2012

De janeiro a março deste ano, os termos de troca brasileiros recuaram 4,1% em relação ao mesmo período de 2011, refletindo o desempenho mais fraco dos preços de exportação no trimestre, especialmente dos produtos básicos. Nos três primeiros meses do ano, as cotações das vendas externas totais subiram apenas 1,9%, enquanto as das importações subiram 6,3%. Relação entre preços de exportação e de importação, os termos de troca em queda confirmam a expectativa de encolhimento do saldo comercial neste ano - os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central projetam um superávit de US$ 19 bilhões, 36% menor que os US$ 29,8 bilhões de 2011.
No primeiro trimestre, os preços dos produtos básicos caíram 2,1% em relação aos três primeiros meses de 2011, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). "As commodities estavam num nível bastante elevado no primeiro trimestre do ano passado", lembra o economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores.
Naquele momento, a economia global crescia a um ritmo razoável e a política monetária americana ultraexpansionista impulsionava a liquidez global, aumentando a demanda por esses produtos, diz ele. No primeiro trimestre, o índice CRB de commodities ficou 8% abaixo de igual período do ano passado. Hoje, ele vê uma economia global fraca, com desaceleração na China, recuperação fraca nos EUA e recessão na Europa.
Os preços de exportação dos setores de agricultura e pecuária caíram 3% no trimestre, enquanto os de extração de minerais metálicos (onde se destaca o minério de ferro) recuaram 12,3%. O economista Rodrigo Branco, da Funcex, diz que esperava um "arrefecimento" até maior das cotações desses produtos, mas o comportamento de alguns deles, como a soja, impediu um recuo mais significativo.
No acumulado do ano, os preços das exportações totais mostraram alta de 1,9%, por causa do aumento de 17,1% dos combustíveis e de 5,6% dos bens manufaturados. O avanço forte dos preços do petróleo, especialmente por conta das tensões no Oriente Médio, explica o comportamento das cotações dos combustíveis, que ganharam bastante espaço na pauta de vendas externas do país. Já a alta dos preços das exportações de manufaturados chega a surpreender, num quadro de crescimento global pouco animador. Para Branco, a base fraca de comparação pode explicar o avanço no primeiro trimestre, que chega a 6,5% no caso do setor de veículos automotores e 11,9% no de máquinas e equipamentos. O presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, considera possível que tenha havido uma mudança do mix de produtos exportados, com as empresas vendendo bens de maior valor agregado.
Já a alta de 6,3% dos preços de importação no trimestre se deveu especialmente a um avanço mais forte dos preços de combustíveis, de 17,2% - o Brasil ainda importa um volume expressivo desses produtos. Além disso, os preços de bens duráveis subiram 10,8%, com as cotações de veículos aumentando 9,7%, e as do segmento de máquinas de escritório e informática, 21,6%. Para Castro, essa alta pode se explicar pelo repasse de aumento de custos pelos produtores - os chineses, por exemplo, têm registrado reajustes de salários. Branco acredita que, como já têm uma presença mais forte no Brasil, os produtores estrangeiros podem ter algum espaço para reajustar seus preços em dólar. Castro avalia que esses produtos tendem a continuar em muitos casos mais baratos que os fabricados por aqui mesmo com esses reajustes, dada a perda de competitividade dos produtores brasileiros.
E a alta desses bens pode causar inflação? Para Castro, é provável que não, porque importadores e distribuidores de produtos estrangeiros têm margens de lucro elevadas, que podem ser reduzidas para evitar perda de mercado. Nos índices de preços ao consumidor, os bens duráveis têm registrado seguidas deflações, evitando uma alta mais forte da inflação. Já Silveira não acredita que a tendência de alta desses preços se mantenha nos próximos meses.
Para 2012, a expectativa dos analistas é de que os termos de troca fechem em queda, principalmente porque os preços dos produtos básicos devem ficar, em média. inferiores aos de 2011. Em 2010 e 2011, os termos de troca tiveram uma alta acumulada de 25%, na esteira do avanço das commodities.