Brasil Econômico - 16/07/2012
José Aníbal
Há duas semanas, a Secretaria de Energia de São Paulo reuniu-se com um grupo de empreendedores dispostos a investir na gaseificação da vinhaça de cana em escala comercial. A produção do biogás de vinhaça é promissora pois oferece ganhos econômicos e ambientais. Por um lado, se utilizado todo o insumo disponível hoje, a produção pode chegar a 15 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Por outro, o processo melhora muito a qualidade da vinhaça utilizada como fertilizante.
Ao mesmo tempo, as pesquisas sobre a gaseificação do bagaço e da palha da cana, desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e parceiros, sugerem que a produtividade energética da área plantada pode quase dobrar com a nova tecnologia. A usina-piloto, que vai processar 1 tonelada de bagaço seco por hora, já obteve inclusive a licença ambiental. A planta será erguida em Piracicaba a um custo de R$ 80 milhões.
A tecnologia pode estar disponível para aplicação industrial antes do que se imagina.
A Embraer, que mantêm parcerias desde 2009 para desenvolver biocombustíveis para aviação comercial, realizou de forma bem sucedida seu primeiro voo de testes. Durante a Rio+20, um modelo E-195, da Azul Linhas Aéreas, voou de Campinas para o Rio de Janeiro movido a biocombustível desenvolvido a partir de micro-organismos modificados geneticamente para processar derivados de cana. Segundo a empresa, houve redução consistente na emissão de poluentes.
As inovações não param por aí. Há pesquisas avançadas sobre o desenvolvimento de biopolímeros e do etanol de 2ª geração, feito a partir da recuperação energética da celulose existente no bagaço - iniciativa pioneiramente capitaneada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As novas formas de manejo da colheita também permitem que o bagaço e a palha da cana, que são briquetáveis, sejam transformados em pallets. O que hoje se desperdiça, ganha aproveitamento, por exemplo, substituindo o uso de lenha.
Também avançam as pesquisas para geração de biocombustíveis a partir do cultivo de algas. Há inclusive uma joint venture austro-brasileira que aposta na viabilidade comercial deste novo produto a partir de 2013. O método utiliza o gás carbônico gerado nas caldeiras na criação de algas, o que acelera a formação de óleo. A extração seria relativamente similar ao processo aplicado à soja.
O Brasil tem caído nos rankings de inovação competitiva e de geração de patentes. Ao mesmo tempo, a participação de produtos com alta tecnologia e valor agregado em nossa pauta de exportação vem diminuindo. As políticas de estímulo à ciência e à pesquisa estão sempre aquém da demanda. Um setor estratégico como o sucroenergético, que concentra todos os nossos esforços em desenvolvimento de bioenergias, não pode ficar tão abandonado pelo governo federal. Hoje, corremos o risco de perder esta liderança. Negligenciar uma cadeia produtiva com este grau de inteligência aplicada já consolidada é uma irracionalidade. Ainda mais no século 21.
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